Aos poucos estou apagando os seus registros. Pelo menos os mais aparentes. Alguns - a parte mais primitiva de nós - não tenho como apagar. Correspondem ao cheiro, ao tato, ao gosto. Memórias inabaláveis, impossíveis de serem, simplesmente, deletadas. Suas digitais ficarão para sempre na minha pele, o teu gosto permanecerá para sempre na minha boca. Porém, ainda assim, estou apagando suas impressões. As mais aparentes. Para que elas não mais incomodem os meus olhos. Para que não mais machuquem a minha alma.
sábado, 22 de dezembro de 2007
aos poucos
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
hábito
Puro hábito. Escrevo apenas por escrever. Não me pergunte o que dizem os meus textos, não saberei lhe dizer. Eles falam de dor, de vida, de morte, de sonhos. Mas não sei o que falo ou penso sobre essas coisas. Ensaio palavras, pronuncio pretensões de uma pequeno-burguesa de barriga cheia. Escrevo porque o papel aceita tudo. Pobre coitado mudo. Ele não pode protestar as minhas idéias. Não pode discordar de mim. Falo de fome sem senti-la, falo de dor sem ter perdido um filho, falo de vida sem viver a minha, falo de morte sem lembrar das vezes em que eu morri. No fundo, somos todos hipócritas. Baile de máscaras no salão nobre do mundo. Burguesia suja. Aquele que está dançando lá trás é o representante de uma ONG de proteção à criança e é o pai que bate em seus filhos atrás das quatro paredes de sua mansãozinha. Você é aquele que se revolta vendo o Jornal Nacional, come chocolate, bebe coca-cola no intervalo e nega comida àquele que bate à sua porta. O mundo? Esse é o palco dos cegos que bailam com suas máscaras. É o brinquedinho daqueles que não enxergam além da dor que não sentem, da fome que nunca passaram, do filho que nunca enterraram, da casa que nunca perderam, do frio que nunca sentiram e do amor verdadeiro que desconhecem.
sábado, 17 de novembro de 2007
estranho não poder
Meu amor. Estranho te chamar assim, novamente. Estranho pronunciar as frases já antigas na memória. Estranho cantarolar por aí os refrões das músicas que eram nossas. É tudo tão sem nexo, tudo tão sem sentido. Olho o passado e não te encontro mais. Perdi, ou perdemos, a identificação. Somos estranhas velhas conhecidas. Queria poder mapeá-la de novo. Queria poder reviver cada parte de nós duas. É estranho te querer novamente. Meu amor. Estranho te chamar, de novo, assim. Eu não posso, não posso querer mais.
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
lembranças, apenas lembranças
Lembranças, lembranças, lembranças. Memória recente, memória arquivada. Arquivo profundo, densa papelada. Registros de ti. Toques guardados. Sensações protegidas, aquelas pela última vez sentidas. Memória do gosto, do toque, do cheiro, do olhar. Braços e abraços, pele e tato, saliva, língua e boca, sons, olfato. Tudo guardado. Memórias de nós. Lembranças, lembranças, lembranças.
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
repetição repetição repetição
Lembranças, lembranças, recordações, memórias, memórias. Passado, passado, passado, presente, tristeza, tristeza, tristeza. Futuro, futuro, saudade, incertezas, incertezas. Retorno, retorno, retorno, permanência, passageiro, passageiro, passageiro. Amor, amor, decepção, eternidade, eternidade. Vida, vida, vida, morte, renascimento, renascimento, renascimento. Fortaleza, fortaleza, dúvidas, paixão, paixão. Distância, distância, distância, caminho, volta, volta, volta. Traição, traição, carinho, perda, perda. Choro, choro, choro, rompimento, vontade, vontade, vontade. Pedidos, pedidos, promessas, mentiras, mentiras. Mais amor, mais amor, mais amor, mais saudade, esquecer, esquecer, esquecer, esquecer, esquecer, esquecer. Pra sempre!
sala-coração
Cinema-mudo de mensagens, palavras escritas, histórias sonhadas. Todos os dias, o meu coração projeta filmes na memória, resgata passagens da minha alma. Os atores são sempre os mesmos. Só o que muda são os cenários que a imaginação inventa ou recorda. Nesta macabra sala de cinema, a única expectadora é a esperança esquálida, apagada, deprimida, definhando sentada na cadeira de veludo cor de vinho. Além da esperança, no fundo da salinha escura, podemos ver a silhueta magrinha da tristeza-escrava, varrendo incessantemente a sala de projeção.
domingo, 4 de novembro de 2007
prova viva
Vem cá! Senta aqui comigo. Tampe os ouvidos. Vem brincar de ser surda comigo, vem? O amor nos chama. Quer, de novo, nos levar pra cama. Seja forte, querida! Não escute a voz bandida do amor. Vem cá! Senta aqui comigo. Feche os olhos. Vem brincar de esquecer da vida comigo, vem? A vida nos prega muitas peças. O destino quer sempre nos fazer andar para trás. Vem cá! Senta aqui comigo. Esconda o seu corpo. Mascare os seus sentidos. As tentações da paixão esquecida, mas sempre lembrada, retornam. Elas insistem
Post para alguém capaz de me entender...
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
amizade
A vida, quase sempre, nos prega peças. O destino nunca é suficientemente claro. O caminho pelo qual andamos, é sempre cheio de bifurcações. Às vezes, quando nos deparamos com a multiplicidade de escolhas, sentamos e esperamos o tempo escolher pela gente. É difícil levar a vida sozinho. É difícil escolher sozinho. Precisamos, sempre, dividir os pesos e as alegrias com alguém. Não necessariamente com um amor. Os amores fazem parte das peças que a vida nos prega. É aí que aparecem os amigos. Os verdadeiros amigos. Anjos disfarçados, que nos ajudam, nos apóiam e, mais importante de tudo, nos criticam, nos colocam no eixo, enxugam as nossas lágrimas e confortam nossos espíritos. A vida é cheia de detalhes e caminhos desconhecidos. E, muitas vezes, ela escolhe caminhos bastante engenhosos para fazer os amigos-anjos aparecerem. A forma como eles surgem, não importa. O que importa é a forma como eles modificam as nossas vidas. Alguns, de muito longe, outros, de muito perto. A distância física não importa quando a proximidade das almas é nula.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
exposição
Estou cansada de pessoas bacanas, classe média legal. Não concorde comigo apenas por concordar. Não aplauda minhas idéias, não sou mico de circo para ser “bonitinha”. Tenha opiniões, argumentos, posições. Tome partido, seja parcial. Mostre a que veio, mostre-se por inteiro. Dê a cara à tapa como eu dou a minha para você bater. Tenha coragem! Levante-se, mostre o rosto! Cresça, invente-se! Seja você mesmo. Não me copie, eu não gosto. Não me bajule, eu não gosto. Não puxe o meu saco, eu não quero. Quero ver você por inteiro, por mais medíocre que você seja. Não tenha vergonha de sua insignificância. Lute, para crescer e sair dela. Vamos! A vida tem pressa.
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
mais o quê?
Classe média. Comida na mesa. Almoçar fora. Refrigerante e pipoca. Fome? O que é isso? Cinema. Shows. Teatro. Cultura e educação. Colégio bom. Faculdade paga. Oportunidades. Emprego. Carteira assinada. Cartão de crédito. Patrão. Papai e mamãe. Família perfeita. Preconceito? O que é isso? Cachorro, gato, irmãozinho. Vovó e madrinha. Presentes. Natal, aniversário, páscoa. Festas. Inglês. Espanhol. Italiano. Ballet clássico. Plano de saúde. Dinheiro para os remédios. SUS? O que é isso? TV, som e computador. Novas tendências. Cama arrumada. Cobertor e edredon. Banheira quente. Chuveiro a gás. Frio? O que é isso? Brinquedos na infância. Psicólogo. Aulas de etiqueta. Boa educação. Direitos garantidos. Justiça amiga. E você ainda quer o direito de ser infeliz?!
domingo, 28 de outubro de 2007
espelho d'alma
Pele vermelha, grandes manchas escuras em volta, mucosa irritada. Pequenos riscos vermelhos riscam a parte branca. O pequeno círculo central abre e fecha descontroladamente. Disritmia incansável. O globo está brilhante. As lágrimas lhe conferem um brilho único. O anel castanho-claro tem marcas. Não sei se são naturais ou se são as marcas que a vida e o tempo lhe deram. Abro, fecho, torno a abrir. As imagens passam através dele, violentam sua inocência. Fecho para não te ver. Mas sua imagem transcende a realidade. Ultrapassa os sentidos. Te vejo dentro de mim. Olha bem no fundo nos meus olhos. Você verá a minha alma. Me diz, você consegue se enxergar nela?
contramão
Estou correndo pelas ruas da cidade. De vez em quando, olho para trás. Quero ver quanta coisa já deixei passar. Placas, carros, pessoas, são muitos os obstáculos nessa corrida maluca contra os fatos. Corro, corro muito. Corro o mais rápido que as minhas pernas cansadas agüentam me levar. Corro contra tudo, contra o tempo, contra a vida. Estou estafada, cansada, mas não posso parar. Correr tornou-se mecânico, robótico. Passo por muitas coisas no caminho. Nem sei, ao menos, para onde eu vou. Apenas corro. Sempre para frente. Sempre contra tudo. No sentido oposto, vejo que você corre também. Você, corre da verdade. E eu, de encontro a ela.
sábado, 27 de outubro de 2007
meninas de mim
“Vem comigo, querida, pare de chorar!”, disse a menina-mulher para a menina-menina, que estava sentada, chorando no canto de seu quarto vazio. “Ir pra onde?”, perguntou a menina-menina para a menina-mulher. “Ir pra vida!”, respondeu, entusiasmada, a menina-mulher. Então, a pequena e frágil menina-menina levantou-se, enxugou, com as mangas compridas da blusa, as lágrimas que molhavam seu rosto e estendeu a mão para a menina-mulher. Menina, esta, que era a própria vida. A menina-mulher era a menina-menina no futuro. Mais forte e mais corajosa. Elas habitavam um mundo distante, o mundo de mim. Uma ajudou a outra a crescer. Quando a menina-menina caía e não conseguia levantar, surgia a mão da menina-mulher, sempre pronta, sempre forte. E quando a menina-mulher sentia-se fraca demais para sobreviver no meu mundo, a menina-menina aparecia radiante, trazendo consigo a beleza e a graça da infância. Assim aconteceu o mais belo dos encontros: o encontro de mim.
morta-viva
As palavras evidenciam a minha alma. Olha! Vê o sangue que escorre? Veja! Veja além das palavras. Elas mostram o meu eu mais profundo e escondido. Cada letra é um pedaço de mim. Vê as vísceras expostas? Veja! Olhe! Sinta o cheiro podre que sai do meu corpo aberto. É o cheiro dos sentimentos. Eles putrefaram dentro de mim. Veja a dor que pulsa latente na minha corrente sanguínea. Ela corrói as veias, apodrece o sangue. Olhe! Veja! Está vendo o meu coração negro? É a podridão que tomou conta de mim. Olhe! Veja! Sinta a dor de um cérebro amante e retardado. Sinapses descontroladas por algo que não tem valor. Um pus constante sai de dentro de mim. Nada mais pode me salvar. Epilepsia dos sentidos. Amor contido, também mata.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
visita íntima
As portas da cela se abrem. Faz tempo que você não aparece por aqui. Estou faminta, sedenta. Arrumei o pouco que tenho para te esperar. Todos os dias eu arrumo, na esperança de ver as grades se afastarem no início da noite para você passar. Em cima da pequena mesa tem uma caixinha de papelão. Nela, estão guardadas todas as cartas, todas as palavras, todas as promessas de me retirar da prisão que você fez. Você vem me visitar e diz que tem saudades. Ah como são boas e como doem essas palavras! Você, só você, tem o poder de me tirar daqui. Mas você diz que ainda não pode, que ainda é cedo. No fundo, você tem medo. Sabe o perigo que ofereço quando estou fora da prisão. Por isso, de vez em quando, você vem. Ora para alimentar o meu corpo faminto do seu, ora para dar de comer à minha alma carente de esperanças. Hoje, porém, você diz ter vindo para me buscar. Pena que já é tarde e os primeiros raios da manhã alcançam o meu rosto. Hora de acordar. Hora de libertar-me da prisão dos sonhos.
terça-feira, 23 de outubro de 2007
natureza frágil
Dia de sol, primavera latente. A tulipa amarelo-ouro olhava para o sol, esticava suas folhas, abria-se, lentamente, para a vida. Surgiu, então, de repente, uma bela borboleta roxa. Belas asas, acompanhando o compasso do vento. A borboleta chegou de mansinho, como quem não quer nada. Pousou, levemente, sobre as pétalas macias da tulipa amarela. Se olharam, flertaram. A borboleta sugou, aos poucos, cada gota do doce néctar que a tulipa lhe oferecia. Radiantes, as duas ficaram ali, sob o sol. Porém, uma era tulipa, a outra, borboleta. Uma era livre, e a outra, presa ao amor impossível que a natureza errante lhe deu. Uniram-se, a borboleta e a tulipa, juntaram-se, tentaram. Com todas as forças que tinham, agarraram-se uma à outra. A borboleta, porém, era frágil demais, suscetível demais às belezas traiçoeiras do mundo. Não tinha as raízes fortes e corajosas da tulipa. Passaram mais uma noite juntas. Amaram-se, pela última vez. Junto com o sol, o amanhecer trouxe outra tulipa. Não tinha a beleza amarela da primeira. Mas, não deixava de ser bela. A borboleta acordou, esticou as asas. E a tulipa amarela teve tempo, ainda, de ver a borboleta alçar vôo.
eterno presente
Tenho medo. Medo de viver o futuro de amanhã e esquecer o presente de hoje. Medo de trocar a dor certa, pela alegria incerta. Deixarei tudo para amanhã. Por hoje, apenas cuidarei de limpar as feridas, retirar o sangue morto preso à pele. Amanhã eu vou viver! Mas, será que vale à pena? Amanhã, o futuro será o presente e o hoje de agora, será o hoje de amanhã. E se amanhã, por mais um dia, eu deixe a vida pra depois? E se, na esperança do amanhã, os meus dias de hoje sejam sempre os mesmos? Te espero num futuro que nunca chega. Afinal, é futuro e o futuro nunca acontece. Vivemos o hoje, só sobre ele temos controle. No dia de hoje você não veio. Por mais um dia sento e curo as feridas. Quem sabe, amanhã?
ano que vem
O mundo é vasto. São tantos os caminhos, não é mesmo? Muitas vezes, não sabemos por qual seguir. Como eu, agora. Só sei que ando. Ando pelo mundo, perdida em momentos únicos. Momentos que não voltarão, jamais. O mundo é grande, não é? Temos tanto a conhecer. São tantos os projetos. São tantos os lugares. O caminho é longo, não é mesmo? Andarei sempre para frente. Seguindo o caminho, acumulando memórias. Ano que vem me mudo. Ano que vem me reformo. Ano que vem continuo. Agora vou sentar e esperar a vida passar, o sonho acabar, as lembranças serenarem. Ano que vem me levanto e continuo a caminhada. Mas, só no ano que vem.
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
caixinha de música
Queria possuir-te. Ter a certeza de que será minha, para sempre, sempre que eu quiser. Queria abrir a caixinha de música e ver você, bailarina-escrava dos meus desejos. Dança menina, dança! Quero ver o balé clássico da posse. Egoísmo, puro egoísmo. O amor, meu bem, é egoísta. Quero te ver dançar. Dança menina, dança! A música suave embala o amor. Tiro-te para dançar, liberto-te da prisão-caixinha. Dançamos uma longa valsa. “Pas de deux” de sonho. Libertei a bailarina em troca de uma valsa. A valsa acabou. Dança menina, dança! Tarde demais. Ela se foi.
complementares
Roxo e amarelo. O frio e o quente. A sombra e a luz. A morte e a vida. Tulipas. Flores. Em mim, nasceu a amarela. Em ti, nasceu a roxa. Flores, muitas flores. O amor necessita de flores. Fragilidade e força. Geração, superação. Sobrevivência. Fogo e água. Nós duas. Eu e você. Somos cores complementares. Roxo e amarelo. Amarelo e roxo.
porta-jóia
Ela era prateada, como a lua resplandecente no céu da noite. Em volta, uma fita lilás contornava toda a volta. Por dentro, o amarelo vivo fundia-se com o mais belo violeta. Tons luminescentes de roxo envolviam as minhas lembranças. Deixei-as ali. Guardadas e escondidas de mim. Porém, não tive o cuidado de esconder, também, a bela caixinha de lembranças. Deixei-a solta, largada entre os móveis e caixas da mudança. Enquanto fazia, ou pelo menos tentava fazer, a minha reforma íntima. Agora, estou recolocando os meus móveis íntimos no lugar. Abrindo, novamente, as caixas com as roupas, faces e disfarces de mim. No meio de tudo, encontrei a caixinha. Aquela, que não tive o cuidado de esconder. Abri. E, do meio das luzes roxas, surgiu você. A minha mais latente proibida lembrança.
perguntas
Por quê? Por que será? O que aconteceu? Aonde você vai? Você vem para o jantar? O amor acaba? A vida passa? Quando você vem? Você vem mesmo? Cadê os sonhos? Qual é o caminho? Me mostra? Me leva contigo? Me ensina a viver? Quando? Volta comigo? Senta aqui? Deita aqui? Jura? Promete? É eterno? Nada é eterno? Por quê? O amor acaba? Diz que é mentira? Você não volta? Nunca mais? E a saudade? O que eu faço com ela? Sem respostas. A esperança acabou.
religiosidade
Acredito, desacreditando. Sou fraca, sou forte. Odeio e amo, intensamente, igualmente. Vivo, paradoxalmente. Juro, mentira deslavada de minha alma. Acreditei, sonhei, amei. Vivi e sobrevivi. Fiz das mentiras, verdades absolutas. Fiz de suas frases, os dogmas incontestáveis da minha religião inventada. Fiz de você, a deusa soberana de uma doutrina antiga. O amor era a minha doutrina. As lágrimas? Essas eram a água benta da minha alma. Limpavam as impurezas, perdoavam suas mentiras, curavam os seus males. Eu? Ah, eu... Pobre dama, Maria Madalena de uma história contemporânea. Atirem a primeira pedra! Foi você quem atirou. Me surpreendi, nem sem porquê. Já esperava. Mas não me lembrava o quanto doía, descobrir que era mentira a descrente verdade inventada de minha alma.
domingo, 21 de outubro de 2007
imobilidade
Sabe, não quero mais chorar. As lágrimas têm machucado a minha alma. Ficarei aqui, parada, estática. Vou sentar no chão da praça e ficar tal qual estátua. Dessas estátuas antigas, que ninguém pára para olhar. E que ninguém entende o porquê de estarem ali, atrapalhando o caminho dos pedestres apressados. Vou ficar ali, imóvel. Esperando a chuva cair. A chuva que infiltra a pedra fria da minha pele. Vou esperar você passar por mim. E, quando você passar, vou torcer para que repare
apenas eu
Eu sou eu. Me perguntam quem eu sou. Mas, eu sou eu. O que seria “quem eu sou”? Quem você é para perguntar quem eu sou? Somos nós, apenas. Você é você e eu sou eu. Simples, assim. Eu sou, apenas, eu. Um eu meio inconstante, meio inconseqüente, às vezes. Um eu que chora e que sofre. Um eu que é feliz. Um eu que se questiona. E que nem sempre encontra respostas para os seus questionamentos. Um eu que se transforma. Eu sou eu. Muitas coisas estão incutidas nesse eu. Um eu mulher, meio camaleônico. Meio fechado, quadrado, até. Um eu que sonha. Um eu de diversas faces. Eu sou eu. E me transformo. Eu me transformo em outras.
cortejo fúnebre
Arrumo-me toda. Me enfeito, me perfumo. Preciso colocar uma roupa bonita. Afinal, hoje é o dia. Preciso parecer forte, saudável. Não quero que fiquem falando “como ela está pálida”, apesar da morte aparente. Quero parecer bem. Quero que todos vejam a minha fortaleza. A fraqueza ficará escondida, embaixo da roupa bonita. Olho no espelho. Será que está bom assim? Espero que esteja. Já está na hora de deitar? A cama é bonita, bem confortável, aparentemente. Têm flores ao seu redor, e um bonito véu de renda com a barra de cetim lilás. Deito, fecho os olhos, entrelaço as mãos. Alguém vem e me cobre com o véu. Duas velas acesas. Por que choram? É hora de descansar
sábado, 20 de outubro de 2007
aventura
Navego teus rios, piso em tuas terras, exploro teu território. A terra não tem mais o mesmo cheiro, as roupas não são mais as mesmas. Olho o mapa que há tempos tenho guardado comigo. Ele não corresponde mais a você. Está errado, não existe mais tesouro enterrado. Olho ao redor, onde é o seu sul e o seu norte? Sigo a correnteza ávida de seu rio. Ele corta as montanhas de ti, escorrega pelos seus vales, afunda suas planícies e chega ao nível de seu mar. Mata densa, terra firme, natureza exuberante, intocável. Aventuro-me em suas terras. Estou perdida em você.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
destino?
Você acredita em destino? Nascemos mesmo com tudo marcado, pronto, acabado? O livro de nossas vidas é escrito por quem? Existe mesmo uma “mão superior” que escreve a nossa história? Talvez sim, talvez não. As verdades não existem, são apenas suposições. Se a mão do destino realmente existe, a minha está perdida. Não sei mais em que ponto ela parou a nossa história. Será que ela começou a escrever e resolveu acabar com final trágico? Ou será que ela apenas deu uma pausa? Talvez, ela esteja dando um tempo nesse capítulo do livro de nossas vidas. Agora, pode ser que ela tenha resolvido recomeçar outros capítulos para, depois, terminar o nosso. E aí, no final, juntar tudo e fazer as coisas terem sentido, como numa bela trama de novela. Talvez, ela tenha mesmo parado. Vai ver porque se cansou da banalidade do amor. Suposições, apenas suposições. Porém, antes de as minhas mãos reais, feitas de carne e osso, pararem de escrever esse texto, tenho apenas mais um questionamento a fazer. De quem é a mão soberana? Seria a direita de Deus ou a mão esquerda do Diabo?
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
silenciamento
Lembra? Lembra dos acordes? Diz pra mim, você lembra? Hoje eu escutei tudo de novo. Cada toque, cada batida. Era o mesmo ritmo, o mesmo timbre. Mas ela não era mais nossa. Você não acredita? Eu estou falando sério! É estranho, eu sei. Mas ela não era mais nossa, de verdade. Escutei-a na boca de outra. Entre outras pessoas. Ela não estava mais entre a gente. Não significava mais. Lembra o que ela dizia? Era tudo tão certo, não é mesmo? Pois é. Ela não é mais nossa agora. A boca calou-se, o som cessou-se. E a nossa música, nunca mais tocou.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
ano novo
O ano está terminando. É hora de repensarmos o que fizemos nele, o que pedimos para as mais variadas divindades no seu início. As pessoas pedem tanta coisa. Umas pedem saúde, outras mais dinheiro e outras apenas o suficiente. Eu pedi alguém para amar. Alguém que me fizesse, até, esquecer de mim mesma. Pedi, e fui atendida. Ganhei o mais belo dos amores. O mais forte, o mais avassalador. O mais improvável e, por isso, mais valioso. O ano chegou ao fim e está carregando com ele o amor que me trouxe. O novo ano vai começar e mais pedidos terão que ser feitos. Repetirei o pedido do ano passado com apenas uma observação: que o amor que ele me trouxer dure mais que, apenas, a sua existência.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
(do)ação
O dicionário diz que significa aceitação. Diz, também, que significa legalização e escolha. Definição fria. Meramente formal. Mas não existem formalidades no amor. E, também, não existem escolhas. O destino bate, o amor nasce, a responsabilidade cresce. Saint-Exupéry disse, sabiamente, que nos tornamos eternamente responsáveis pelo que cativamos. Então, não precisa legalização, o amor é legítimo, por natureza. Muitos, talvez, não entendam. Acham que é fruto de caridade, que somos almas bondosas. Mas não, eu digo que não. Somos, sim, pessoas verdadeiramente egoístas. Porque só nós compreendemos a felicidade, a alegria e a emoção que existe no sorriso de uma criança. Mudar uma vida está em nossas mãos. Este é o verdadeiro significado da palavra “adoção”.
medo de amar
Uns têm medo de avião. Outros, de mar. Tem gente que jamais sentirá a sensação maravilhosa de mergulhar de cabeça. Nem no rio e nem nos sentimentos. Alguns têm medo de animais. Outros têm medo de gente. Uns sofrem com a altura. Outros têm pânico de ficar à altura do chão. Alguns enlouquecem, pois têm medo de si mesmos. Outros fecham-se em si com medo do mundo. Uns têm medo da morte, sofrem com a possibilidade do fim. Outros têm medo da vida, e amarguram-se com expectativa do início. Tem gente que morre de medo de sonhar. Esses, têm medo da decepção ao abrir os olhos e vivem sem conhecer a felicidade por medo do sofrimento. E, alguns, sofrem com a mais triste das fobias. Um medo que os torna prisioneiros de si mesmos, que os escondem do mundo e que cega os olhos às cores da vida. O medo, inerente, imutável e insuperável, de amar.
sábado, 13 de outubro de 2007
pois é
Vontade de escrever. Que bom! Abro o word, penso na vida. Na minha e na sua vida. Olho para a tela, ela ainda está
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
vôzinho
Hoje estava te olhando. Você ainda vive dentro de mim. Lembra de quando andávamos de mãos dadas? Lado a lado, a sua geração e a minha. Estava com dor de estômago ontem. Sinto falta dos chás, dos conselhos e dos cuidados quando eu ficava doente. Amanhã é dia das crianças. Estou esperando você vir me buscar para irmos ao centro da cidade passear, tomar sorvete e comprar meu presente. Estou te olhando agora. No outro lado da baía está dando mais peixes. Vamos até lá? Lembra quando íamos, juntos, pescar no fim da tarde? Nunca mais andei na praia. Não tenho mais companhia. Hoje levantei cedo, no mesmo horário que você. A mesa para o café não estava posta, não vi o mamão cortado e a térmica cheia de café. Fui pra aula sem comer. Sinto sua falta. Ainda não me acostumei, apesar de fazer tempo que você partiu. Você ainda está por aqui, eu sei. E, mais tarde, caminharemos novamente juntos. Não por uma vida, mas por toda a eternidade.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
felicidade?
Buscamos tanto a felicidade. Mas o que seria ela? Será que, em algum momento, nos perguntamos o que ela seria? Será que sabemos o que ela representa? Alguns acham que a felicidade se resume ao dinheiro. E que este, até, manda buscá-la. Outros acham que viver com quem amam, é a garantia de uma vida feliz. E, dessa forma, delegam a responsabilidade sobre a sua felicidade a outras pessoas. Pessoas que não conseguem cuidar nem da felicidade delas, quem dirá da dos outros. Alguns acham que a felicidade é ter o que querem e o que precisam à mão. É ter tudo de forma fácil, sem esforço. Mas e quem tem dinheiro e não tem amor? E quem tem amor, mas não tem dinheiro? E quem não tem os dois? E quem tem os dois e não tem saúde? E quem tem um amor, mas não sabe vivê-lo? E quem tem dinheiro e não sabe gastá-lo? Esses são os infelizes. E, como não se pode ter tudo nessa vida, nem muito dinheiro, nem muito amor, vivemos procurando, buscando. E nos frustrando a cada busca perdida. A felicidade é uma utopia.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
cicatrizes
As feridas cicatrizam, sabia? Hoje, mais do que nunca, sei disso. Olho para o meu corpo, para a minha alma, e vejo as várias marcas que existem. Algumas são bem profundas, outras não passam de arranhões. Tenho, ainda, algumas cicatrizes que estão abertas. Mas logo elas fecharão. Cuido todos os dias para que elas sejam curadas, superadas. Em algumas partes de mim, as cascas estão começando a cair. Delas, só restarão as marcas que jamais conseguirei apagar. São as marcas da vivência, da experiência e da dor diárias. São os sulcos na face provocados pela erosão das lágrimas. Pelo meu corpo todo tenho, também, marcas de queimaduras. São as marcas deixadas pelo seu toque, pelo toque quente da sua pele. Essas são mais difíceis de apagar do corpo e da memória. São bem profundas e bem doloridas. Mas, quem sabe, o toque frio e gélido de outro corpo consiga neutralizar a ardência, ainda latente, que a minha pele sente.
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
gaveta de lembranças
Segunda-feira. Nada de novo, nenhuma novidade. Arrumar o quarto, trabalhar, remoer lembranças, organizar os pensamentos
notícia qualquer
Procuro notícias suas, quero saber de ti. Olho a vida alheia, em busca da sua. Sei que não me fará bem, mas olho mesmo assim. Tenho tudo guardado. Tudo aquilo que um dia eu descobri. Tudo aquilo que me machuca, está numa caixinha escondida de mim. Às vezes, quando saio por aí, a encontro. Revivo as lembranças ruins, lembro de cada lágrima derramada, do pranto incontido durante a madrugada. Tudo dói, tudo machuca. Mas, ainda assim, insisto
domingo, 7 de outubro de 2007
zd
Ela é de domínio público. Faz parte da vida de muita gente, de diferentes formas. Cada um, à sua maneira, estabelece um contato íntimo com ela. Simples em sua magnitude. Perfeita até nos possíveis defeitos. Um ícone, uma inspiração. É pretensão demais escrever ou falar sobre ela. Ela desconhece, mas a nossa história é antiga. Talvez, não “nossa”, mas “minha com ela”. Embalando os meus dias, trazendo força, despertando uma vontade desconhecida
filme íntimo
Não, por favor, não repita tudo de novo. Pra que isso? De que adiantam as palavras que escapam soltas, vazias, vagas de sua boca? Elas não me adiantam mais. Maltratam a alma, pisam, escarram no que sobrou de mim. Guarde-as todas pra você. Engula-as. Agora é tarde para repetir tudo de novo. Não quero mais saber dos seus pensamentos, das suas vontades. Elas não me interessam mais. Para que me incluir nos seus sonhos, nas suas vontades agora? Foi você mesma que, há pouco, fez tudo acabar. Você não quis? Você não planejou? Não, chega, não minta mais pra mim. Sabemos sempre o que fazemos. Somos dotados de inteligência para isso, para ter consciência dos nossos atos. Não peça desculpas pelos seus erros. Eles não têm perdão. Talvez, sim, aceitação. Mas cansei se aceitar. De dar a cara à tapa por você, pra você e por nós. Não tem mais salvação, conforme-se. Amargure sua vida, agora. Viva-a intensamente, como talvez você sempre quis. Mas uma intensidade, falha, pobre, barata, vazia. Vai lá, a vida é sua. Viva, sem propósitos, desprovida de sentidos, sentimentos e desafios. Vai lá, você agüenta. Você é bem forte para o comodismo. Sente-se confortavelmente na poltrona da sua sala, assista sua vida passar, como quem vê um filme bobo numa tarde de domingo. Ah, e não esqueça a pipoca, pois pode ser que seja divertido.
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
crescer
Vou te ensinar, olha só. Primeiro você precisa sentir melhor os sentimentos. Sim, é estranho. Mas é isso mesmo. Sentir melhor os sentimentos. Isso é o mesmo que sentir melhor as dores, sentir melhor o amor, sentir melhor o gosto das lágrimas e ser sensível às lágrimas e aos sentimentos alheios. Após isso, é preciso ter mais respeito. Respeito compreende educação, carinho, polidez, compreensão. Compreende, também, entendimento. Entendimento das dores, palavras e sensações das pessoas que nos cercam. Quando cumprimos essas etapas, vem a parte do caráter. Essa é difícil, muita gente desiste por aqui. Mas ela é muito necessária e importante. Ter caráter significa ter princípios, ter palavra. Significa promessas cumpridas, palavras verdadeiras, ideologias reais. Para se ter tudo isso, é preciso, também, responsabilidade. Responsabilidade com tudo que as pessoas nos dão. Para isso, é preciso ter sensibilidade para entender os sentimentos das pessoas, é preciso ter respeito ao que elas sentem, é preciso ter caráter para corresponder fielmente e é preciso ter palavra para manter o caráter. Parece muita coisa, até aqui. Mas, na prática, você verá que a linha que separa essas questões é muito tênue e muito fácil de ser perdida ao longo do caminho. Além de tudo isso, e acima de tudo isso, está o amor. É preciso amar, amar muito, para se ter tudo isso. Mas um amor forte, verdadeiro e consolidado através do respeito, do caráter da palavra sincera e da sensibilidade. O amor de um “eu te amo” vazio, não é nada, e pouco, ou nada, acrescenta à vida das pessoas. Pelo contrário, muitas vezes, ele só tem a retirar e subtrair. Viu, não é tão difícil ser adulta, ser “gente grande”. E, por mais que possa parecer, eu garanto: é muito recompensador.
amor de folhetim
Nada mais é novo. Não tenho mais novidades. Minha vida virou um folhetim barato, uma novelinha qualquer. Enredo simples, história tediosa, um drama normal. Os personagens são sempre os mesmos, as pessoas não mudam, os sentimentos são todos iguais. Amor, ódio, tristeza. A velha tríade pobre, mas sempre funcional. Eu sou a mocinha. Pobre dama injustiçada e sofredora. Você, o amor inatingível, sofredor, inalcançável. E, entre nós, milhares de histórias e vidas paralelas. Não podemos ficar juntas. A distância é grande, o preconceito maior ainda. Estamos fora dos padrões. Jovens e belas aberrações apaixonadas. Na novela da vida, nem tudo dá certo no final.
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
impulsos
Quando você sentir vontade de falar, não fale! A humanidade não merece mais mentiras. Quando você sentir vontade de chorar, não chore! O choro requer sinceridade, e sinceridade é para poucos. O mundo não merece as suas lágrimas vazias. Quando você sentir vontade de ficar, não fique! Permanecer, criar raízes, não é para todo mundo. Quando você sentir vontade de voltar, não volte! A vida, certamente, estará melhor com a sua ausência. Quando você sentir vontade de amar, não ame! O seu amor machuca, fere, subtrai a alma.
sepultamento
Apagaram tudo. Pintaram as paredes. Não vejo mais nada, agora. As lembranças foram cobertas pela grossa camada de tinta preta. A parede, que antes era cor-de-rosa, não tem mais cor. É negra, escura, vazia. Não reflete mais nada, não exala sensações. Antes, ela mesclava nuances num belo sonho com a cor original das rosas. O quarto reservado aos sonhos tinha perfume, um cheiro gostoso, suave, adocicado. Hoje, para combinar com a negritude as paredes, o ar é fétido, podre, pesado. Fruto da decomposição dos sonhos. Já corroídos, comidos, decompostos pelas bactérias da traição, da falta de amor, de moral e de caráter.
nada
terça-feira, 2 de outubro de 2007
mãe
Agora eu sou capaz de entender. Agora posso entender o amor e o ódio que te deram vida, e destruição ao mesmo tempo. Entendo, agora, de onde vinha a força de cada dia. De onde surgia a coragem diária, a vontade e a garra constantes. Entendo de onde surgiu a mulher batalhadora, incansável, inconsolável. Entendo, também, de onde surgiu a amargura e o porquê de tantas lágrimas incontidas com o passar dos anos. Entendo, agora, os olhos marejados, vidrados, parados. Quase mortos, às vezes. Entendo o olhar perdido, vagando nas viagens distantes do seu pensamento. Entendo, hoje, a dureza e a rispidez aparentes. Entendo os seus motivos, as suas glórias. Reconheço, ainda mais, os seus méritos. Hoje, sou capaz de identificar e compreender cada marca, cada ferida que seu corpo e a sua alma trazem. Entendo a fortaleza que você construiu
domingo, 30 de setembro de 2007
cruel, como você
Dói agora, não é mesmo? Que bom! É para doer mesmo. Incomoda, não é? Que bom! É mesmo para incomodar. A dor que você sente, eu garanto, jamais será metade da que um dia você me fez sentir. Machuca tanto, não é? Que bom! A sua infelicidade é o maior objetivo agora. As palavras são cruéis, não é? Como eu sei a dor das feridas que elas provocam na alma. As feridas são profundas, demoram muito para fechar. E, o pior, às vezes, jamais se fecham. É difícil viver sob o peso e a fúria das palavras, não é mesmo? Mas você consegue. A cobra não morre com o próprio veneno. Então, você sobreviverá às palavras, apesar de ser dolorido. Você chora agora? Que bom! Não sinto pena, nem dor e nem remorso. Tantas vezes eu chorei também. E tantas vezes você nem ligou. Sofri a minha dor sozinha, amarguei os meus dias calada. Se, agora, posso amargar os seus, que bom! Quero muito que você seja feliz. Mas só depois que você já tiver experimentado todas as formas de infelicidade.
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
profundezas
Eu não posso ou, talvez, nem queira. Eu queria, eu acho. Mas não sei se posso. E, se eu posso, acho que não quero. Eu gosto, mesmo não podendo. Me dizem que é errado, que é pra eu esquecer. Mas não vou. Aliás, vou. Vou guardar tudo. Sofrer tudo. Chorar tudo de uma vez. Inundar o mundo, alagar a alma. Me afogar, transbordar. Verter sonhos. Overdose de sentidos. Colapso nervoso, incontrolável. Engolir tudo, até me engasgar. Até não agüentar mais. Até desistir. Até sucumbir. Até perder a memória de mim e de ti. Até recuperar os limites do eu. Recuperar as fronteiras invadidas. Até morrer numa guerra perdida. Até dormir um sono profundo. Um sono de morte. Vou mergulhar de cabeça no mais fundo de mim.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
claridade
Apago a luz. Fecho os olhos, escondo o rosto. Quem sabe no breu eu consiga fingir que é você. Quem sabe com o nariz e os olhos fechados eu consiga enganar os sentidos. Tapear os sentimentos. Trapacear o meu corpo. Quem sabe, abstraindo-me da realidade, as mãos que agora tocam tornem-se as suas. Escondo-me do mundo, os impulsos cegos e tolos estão no comando agora. O governo deles dura pouco. Somente o instante necessário para acender a luz. O clarão ofuscante me traz de volta à realidade. À realidade dos sentidos.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
(re)viver
conhecer e envolver
morrer e recomeçar
voltar e repensar
amor e paixão
tensão e tesão
carinho e satisfação
saudade e carência
momentos e certezas
tempo e ansiedade
não me faça esperar
te quis e quero como ninguém
dói o peito, euforiza a alma
mas tranque a porta
me prenda no teu eu
não me deixe sair de ti"
(autora conhecida, mas que não será nomeada)
Encontrei o texto acima vasculhando lembranças. Abri a caixa de um email que há tempos não utilizava e me deparei com esse texto. Ele integra a parte mais doce das minhas memórias e, também, a parte mais amarga delas. É, a partir dele, que eu tenho a dolorida certeza de que o "pra sempre" não existe, e que o tempo futuro não passa de uma ilusão vil e pretensiosa do nosso ego.
invasão
Olho as suas fotos. Ainda estou tentando enganar os meus sentidos. Fecho os olhos e apago a luz para não ver. Tampo os ouvidos para não ouvir os gemidos que não são seus. Encolho as pernas para não tocar as coxas que não são suas. Escondo a boca para não sentir outro gosto que possa apagar a memória do seu. Mas não adianta. Fico feito boba tentando me livrar das lembranças, da memória cravada, inalterável. Tenho apenas duas mãos. Duas mãos para cinco sentidos. Se fecho os olhos e os ouvidos, sinto o cheiro e o gosto seus. Se tampo o nariz e a boca, os olhos vêem, os ouvidos escutam, e os sons e as imagens machucam a alma. Se escondo as mãos, a face fica livre, e as suas impressões doem ainda mais. Estouram os tímpanos, cegam os olhos, mordem a língua, tiram o ar, arrebentam a pele.
sábado, 22 de setembro de 2007
luta
Invasão de pensamento. Você entra sem pedir licença, sem saber se é bem vinda ou não. Não bate à porta, não chama, não faz barulho, não faz alarde. Simplesmente invade. Entra nos momentos mais impróprios, mais íntimos e mais privados. Não te convidei, não te dei passe livre. Mas você entra mesmo assim. Invade a mente, violenta o corpo, alucina os sentidos. A cada dia luto contra a sua posse. Retomo os pedaços que eram meus. No outro dia, porém, você invade novamente. Faz suas as terras que são minhas. Todo dia organizo o meu exército para mais uma batalha contra você.
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
fotografias
O mural já não é mais o mesmo. Retiro as fotos uma a uma. Cada pedaço de papel é carregado de significados. Cada momento gravado ali é repleto de lembranças e sensações. Rasgo as fotos. Como quem rasga lembranças. Como quem tenta limpar a memória, deletar sentimentos indesejáveis. A lixeira está cheia agora. Cheia de pedaços incompletos. Quebra-cabeça sem peças. Não temos mais o que montar. Não adianta tentar montar. Ele está incompleto. É em vão, é inútil a tentativa. Num pedaço de papel rasgado, abandonado, estão os seus olhos. Em outro, suas mãos. Cada parte de ti está ali. Partes importantes de ti. Mas que não têm mais significado. Não dá mais para tentar remendar as fotos. Elas perderam o sentido agora.
olhos nos olhos
'Ce sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz"
(Chico Buarque)
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
passou
Ontem, te deixei. Finalmente eu acho que te deixei. A despedida é sempre triste, sempre dói reler as palavras doces e relembrar as passagens ainda frescas na memória. Mas, por mais que tenha te perdido, eu ganhei. O vento frio que cortava a noite, a lua ausente na noite que já ia alta, nada mais me lembrava você. Andei muito, falei muito e senti muito. As sensações e os sentimentos mais estranhos me tomaram, de súbito. Estranhos? Não. Eles eram velhos conhecidos de mim. Apenas eram estranhos por acontecerem. Afinal, não eram mais os seus olhos, o seu rosto, a sua boca, a sua língua. Eram outros, completamente diferentes em gosto e sentido. Mas eram reais. E igualmente reais, foram as sensações por mim experimentadas.
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
beijo
Ainda lembro a textura da pele. O gosto e o cheiro só teus. As coxas nas coxas, teu corpo no meu. Os paladares de outras línguas, agora amargam o meu. Deixam acre o sabor da boca. Nas bocas em que te esqueço, te encontro. E nas bocas em que te procuro, não te esqueço. Por mais diferentes, diversas, distintas que as bocas sejam, o sabor do beijo é sempre o mesmo no final. Perturbador sabor de saudade do beijo teu.
amor qualquer
Amor morno. Sem rompantes e sem imprevistos. Destes com o qual a gente vai ao shopping no sábado e passeia de mãos dadas no parque aos domingos. Amor para assistir TV. Para sentar na sala e ficar sem fazer nada. Amor para conversar, para bater papo. Sem muitas alegrias, mas, também, sem muitas decepções. Amor com cumplicidade. Amor com o olhar, com o toque, com os sentidos. Um amor para qualquer hora. Amor sem medo, sem culpa, sem preconceito. Eu só queria a sorte de um amor tranqüilo. Um desses amores quaisquer. Desses amores de mercado, de feira. Desses amores da vida.
sábado, 15 de setembro de 2007
mulheres
Um dia eu achei, e acreditei, que as mulheres eram diferentes. Sempre pensei que com elas não passaria por tudo aquilo que sempre odiei e repudiei. É triste, dói agora. É difícil ver que o meu discurso bonito está desabando. E justamente em cima da minha cabeça. As palavras mentiram, me iludiram, me enganaram. Fui passada para trás. Nada há de diferente nas mulheres. Elas mentem, são cruéis e falsas. Se integram bem ao resto da humanidade.
primeiro susto
O primeiro encontro, o primeiro olhar. Aquele primeiro momento em que tudo aconteceu. O primeiro beijo. A primeira noite, o primeiro dia. O primeiro toque. A primeira vez em que senti o teu cheiro. As primeiras palavras, a primeira conversa. As primeiras certezas, as primeiras dúvidas. A primeira música, aquela que se tornou a principal. As primeiras coincidências. As primeiras flores. A primeira vez em que fomos feitas uma para a outra. O primeiro “eu te amo”. Os primeiros apelidos. A primeira briga. A primeira palavra não dita, engolida, guardada. A primeira perda. O primeiro amor. As primeiras lembranças. O céu é azul, o teto é branco, a parede é areia. E você é o risquinho da tattoo. Lembra?
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
sons
Escuto ruídos estranhos. Não identifico mais os sons que ouço. Levo as mãos aos ouvidos, não quero escutar o som que escuto. O timbre sempre tão doce, tão agradável, agora arranha meus tímpanos. A voz doce e rouca que sempre escutei, que era a trilha dos meus dias, agora machuca, dói, tem som de marcha fúnebre no cortejo da minha alma. Os sons perderam o encanto, as notas são todas iguais. O som que agora me invade, não mais transforma o ser em mim, não mais me mostra o futuro. A voz segura de si, a voz que embalava a esperança de dias melhores, deixou de existir. Perdeu-se no tempo e no espaço. Talvez não tenha sido forte o bastante para chegar até mim, já que a distância física era tanta. Sinto tudo tão distante, tão longe. A tua e a minha alma, que sempre foram tão próximas, estão soltas, dispersas. O eco que as unia parou de gritar dentro de mim. Fora a minha voz tão fraca, tão pouco ressoante para te alcançar? Será que faltou gritar, berrar, arranhar a garganta ainda mais? Não tem mais encontros, as vozes não mais prometem mudanças. Não há mais junção de timbres, sons vagos e gemidos. Nossas bocas separam-se, as línguas não mais desenvolvem os mesmos movimentos. De tudo, restou apenas um silêncio maldito, denso, ensurdecedor.
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
olhos nos olhos
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais"
(Chico Buarque)
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
eterno retorno
Um dia, em algum dia do nosso passado, você me pediu um minuto do meu tempo. Disse que iria aproveitá-lo, e nesse minuto, nesse ínfimo minuto, você me deu anos futuros de alegria. Nesse um minuto sonhamos uma vida. Sonhamos a nossa vida. Tantos planos, tantos pedaços de nós foram, aos poucos, se juntando, se completando. Palavras e mais palavras. Gestos, mãos soltas, abraços infinitos, íntimos, nossos. Vivi minha vida inteira em apenas alguns meses. Como se estivesse de mudança pra algum canto só nosso e precisasse juntar a minha vida inteira de uma vez só. Mudei-me para ti, para dentro de ti. Abandonei a minha casa, o meu habitat. E agora, quando retorno, custo a retirar a poeira dos meses de ausência de mim. Organizo novamente as minhas gavetas, arrumo nossas coisinhas em algum lugar escondido, protegido desse mundo cruel. São as minhas lembranças mais doces, e as que mais me machucam. Tento tirar você de mim, mas não posso, não consigo. Tomo banho, lavo os cabelos, esfrego o corpo na tentativa frustrada de limpar você de mim. Arrumo a cama, dobro as cobertas, tiro os seus cabelos do meu travesseiro. Abro as janelas pra ver se, na rua deserta de mim, passa alguém à toa, distraída. Quem sabe, afim de tomar um café com o que restou de mim.
o que me importa
Essa tristeza em seu olhar
Se o meu olhar tem mais
Tristezas prá chorar
Que o seu"
(Marisa Monte)
terça-feira, 11 de setembro de 2007
tudo igual
Nada mudou, apesar de todas as mudanças. Espero tanto, ainda quero tanto. Tudo permanece do jeito que você deixou. As fotografias ainda são as mesmas, permanecem inalteradas, imóveis no lugar sagrado de antes. Tudo ainda guarda você. Cada parte de mim ainda lembra o toque, a pressão das mãos, a intensidade do beijo. Não me reconheço mais e, ainda assim, me encontro em ti, me busco
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
diante do espelho
Olho para o espelho e converso comigo mesma. Me digo: - Você será forte, mulher. Você vai conseguir. Decoro palavras duras, ensaio discursos rudes. Pego o dicionário e leio rapidamente. Procuro aquela palavra que será capaz de te machucar, que irá arranhar a tua alma. Combino fonemas, rimo palavras difíceis. O que será que vai doer mais em ti? Ensaio tantas e tantas vezes. Digo ao espelho tudo aquilo que você deveria ouvir. Invento verdades, duras verdades. Falo tudo aquilo que está entalado na minha garganta, atravessado no meu peito. Discurso em vão, inútil. Mas ainda assim, tento. Muito mais para me convencer das verdades que invento do que para te machucar com as palavras que digo. Quero, um dia, poder acreditar em tudo o que falo. E, quem sabe, conseguir te dizer tudo aquilo que só o espelho e as paredes mudas escutam.
dois bicudos
Que o nosso amor nunca foi feito pra durar"
(Ana Carolina)
pedidos
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
tempo
Hoje sentei na sala de casa, tomei um café, voei pelo tempo e pelo espaço. Já estamos
sombras
Ando por aí, sem rumo, sem destino. Caminho pelos dias frios, sombrios, escuros, apesar do sol forte que desenha sombras pelas calçadas antigas. Procuro uma parte de mim, esquecida, ou, talvez, sempre lembrada. Acho que a perdi pelo caminho, pela longa estrada que percorri um dia por alguém, por algo, por sonhos. Nada mais restou de grande porção de mim. Da melhor parte de mim. Era tão grande e, ao mesmo tempo, tão frágil, tão leve, tão tênue, que não devo ter percebido quando, em algum momento do longo caminho, a deixei cair, escorregar, deslizar pelas minhas mãos. Agora me pergunto como pude, como deixei acontecer. Me sentia tão forte quando a grande porção leve de mim andava ao meu lado. E, de repente, ela caiu, partiu-se, acabou. Ando agora procurando. Buscando em cada canto, em cada parte, em cada lugar inabitado, a porção maior de mim. Ou outra qualquer que sirva, que seja capaz de me preencher como a antiga porção de mim. Olho as sombras projetadas na calçada. São como as sombras que vagam e bailam dentro de mim. Vejo as sombras, sinto as sombras, mas não sou capaz de ver os objetos. A visão está turva, embaçada. Talvez pelas lágrimas que não saíram, que ficaram paradas, imóveis, incapazes de cair pela face. O jeito agora é olhar para dentro de mim, procurar a minha porção esquecida, ofuscada pelo brilho e pela intensidade da minha porção perdida.
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
comigo mesma
Nunca tinha parado pra pensar no tamanho da cidade. Hoje vaguei pelo centro, lembrei de mim, procurei a infância. Busquei as marcas do passado, do mais distante de mim. Daquilo tudo que não me lembro, que a memória dos fatos recentes apagou. Hoje andei por mim. Pelas minhas ruas, pelas minhas calçadas. Marquei encontro comigo mesma, tomei sorvete sentada comigo na praça. Foi bom, muito bom o encontro comigo. Eu, comigo mesma, sem ninguém pelo caminho. Uma conversa franca, de amigas antigas, de longa data e que há muito não se viam. Sentei comigo no meio-fio, olhei as árvores, os carros o movimento e o ritmo da cidade de mim. Namorei comigo, fiz de mim a minha eterna namorada.
então vai
Passo dias escrevendo, trancada no quarto, fechada para o mundo. O que eu posso te falar sobre o sol, se eu não olho mais para fora e mantenho as janelas sempre fechadas? Você me pediu palavras duras. Disse para eu falar o que você precisava ouvir. Mas de que adiantam as palavras, quando o que te falta eu não posso dar? Você precisa de coragem para enfrentar seus medos, para enfrentar você. O mundo não é o problema agora. Ele é a solução, a sua justificativa válida, a sua desculpa. Mas tudo bem, não posso ter a pretensão de te ensinar algo da vida. Eu nem ao menos sei lidar com a minha vida agora. Eu não tenho mais nada a dizer, mais nada a declarar. Vai lá, boa sorte! Volte para a sua vidinha. Quero que você seja feliz. Vai lá, prometo ser sua cúmplice. Serei cúmplice dessa mentira bonita que você inventou. Vai lá, eu ajudo. Juntas, esconderemos do mundo as verdades que incomodam a tua alma. Ajudo, principalmente, a esconder de ti. Nada de palavras rudes, ásperas, doloridas. Pra ti só palavras doces agora. A vida é boa, o dia é belo, as noites são frescas como nos dias de verão. Chegou a hora de você partir, não se atrase! Vai logo, sem culpas. Não se preocupe comigo, não olhe pra trás. Você vai ser feliz, ao menos por um tempo. E quando a vontade de regressar bater à sua porta, não volte.
terça-feira, 4 de setembro de 2007
mil pedaços
De tudo o que ficou
Guardo um retrato teu
E a saudade mais bonita"
(Legião)
adeus
Eu morro, toda noite. Perco a vida, perco o sono. Durmo por não ter outro remédio para que o tempo avance o mais depressa possível. Eu renasço, toda manhã. Vivo por não ter outro remédio que faça os dias voarem para que a noite chegue mais uma vez. Um sopro de vida me reanima na hora do café da manhã. É a esperança de cada dia. A esperança vazia, solta, apagada. Mas é, também, aquela que me traz você por alguns instantes ilusórios. É ela que me faz ver teus olhos, escutar teu riso, sentir teu toque. A noite vem, e me tira tudo isso. É o golpe, a dor da perda, a morte, o enterro dos sonhos. Amanhã, acordarei com a brisa gelada da vida esvoaçando os meus cabelos. Apagarei a luz agora. Adeus, meu grande amor.
domingo, 2 de setembro de 2007
l'avventura
Só que não lhe quero mais
Não é desejo, nem é saudade
Sinceramente nem é verdade
Eu sei por que você fugiu
Mas não consigo entender"
(Legião)
aos vinte anos
Hoje as pessoas diriam que é o meu dia. Festa, amigos, família, casa cheia. Presentes, desejos, felicitações. Porém, tudo o que eu queria não vem. E o pior, eu sei que não virá, mas, ainda assim, espero. Aguardo ansiosamente a ligação que não faz o telefone tocar. Meu estômago contrai-se a cada toque da campainha. Mas eu sei que não é você, antes mesmo de abrir a porta. Olho o relógio, você está atrasada. Um atraso longo, demorado. Você não vem, eu sei que não. Mas esse é o único sonho que restou
datas
Hoje fico mais velha. Sentada na cama, olho redor. Vejo o mural pendurado na parede. Várias fotos, muitos momentos eternizados, guardados, retidos para sempre no papel. Representação de uma realidade há muito perdida, deixada para trás. Olho pra inocente menininha loira, sentada na grama, flores nas mãos. Tão linda, tão meiga. Ela cresceu, perdeu a inocência. Logo ao lado, a menininha está mais velha. Pequena mocinha, descobrindo a vida. Do outro lado, avisto a mulher de hoje. Ou melhor, a mulher de alguns dias atrás. De quando ela ainda era feliz, de quando ela ainda sonhava. Capacidade trazida desde a infância, carregada durante a adolescência e perdida agora, depois de grande. Mas tudo bem, os sonhos são apenas uma parcela do que perdemos ao longo da vida, durante o longo caminho que percorremos. Aos poucos, nos acostumamos com as perdas. A cada ano, a cada aniversário comemorado, deixamos mais e mais coisas para trás. Adquirimos experiência, e a certeza, cada vez mais latente, de que o mundo é, a cada ano, mais cruel e vil.
sábado, 1 de setembro de 2007
pensamentos
Lugar cheio, tanta gente
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
flor
Era tudo tão bonito. Era tudo tão perfeito. A nossa vida era tão certa, tão boa. A felicidade invadia, não pedia licença para entrar. Ela simplesmente entrava, bela, graciosa. Como uma flor, pequena flor, que nasce em meio ao caos das montanhas vazias. A flor é única. Ela simplesmente nasce, não escolhe o lugar, nem o dia, nem o momento mais apropriado. E seu único objetivo é sobreviver, é superar o frio da montanha, as tempestades do inverno, para, mais uma vez, aparecer bela durante a primavera. A nossa flor não resistiu. As montanhas eram muito distantes, não barravam o vento frio que soprou durante o inverno. Agora é setembro, chegou a primavera. E cadê a flor? Ela está lá, estática, parada, acabada. Repousa no chão gélido da montanha. Está secando, apodrecendo ao sol de setembro.
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
toque de emoção
Ainda bem que tudo já passou
E sinto que saí da tempestade
De alma vazia e coração pela metade
Quem disse que não dói
Não diz verdade
Talvez por não saber o que é saudade,
E essas coisas só se aprende com o tempo não depende da vontade
Passou
Ainda bem que tudo já passou
Mas fatos do passado estão presentes deixaram esse vazio e a solidão
Eu vivi um sonho novo
E esse amor imprevisível
De repente, o teu adeus
Que eu não pensei que era possível
Reações inesperadas sem razão
O coração é mesmo incrível
E se eu penso
Não te entendo
E se te entendo
Não aceito
Coração desesperado
E essa mágoa no meu peito
Eu te quero mais que tudo
E esse amor tão absurdo
Não tem jeito"
(Joanna)
presidiária
Perdida no tempo e no espaço, sentada, solta, calada sob o sol. Horizonte deserto, nada de imagens e nada de sons. Espero o que eu sei que não virá. Risco dias no calendário, contagem regressiva para o retorno imaginário e para sempre adiado. Fico sonhando, imaginando. Chego a te ver novamente. Estico as mãos, estendo os braços, mas não te alcanço. Esforço vago, em vão, inútil. Procuro novamente seus olhos. Onde estão seus olhos? Não os vejo. Estão longe, distantes de mim. Mas calma, não são seus olhos. É apenas a imagem projetada, a ilusão de ótica da minha alma. Estou cega para a realidade. Meus olhos me enganam, escondem os fatos. Tento, incansavelmente, te entender. Busco razões, motivos, explicações para o que não se explica. Tento velar, camuflar os fatos, o que está claro, límpido, inalterável. Tento acreditar em mim, acima de tudo. Nas mentiras que eu mesma invento. Tentativa frustrada de te entender. O calendário dentro de mim parou, os dias não nascem mais. Não vejo o sol, tornei-me presidiária de mim.
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
não tem volta
Você nunca volta
Você retorna
Você contorna
Mas não tem volta, volta
A estrada te sopra pro alto
Pra outro lado
Enquanto aquele tempo
Vai mudando
Aí, de quando em quando
Você lembra
Aquele beijo
Aquele medo
Mas você sabe
Que tudo ficou antigo
E você não volta
Nem com escolta
Nem amarrado
Porque o passado
Já te perdeu
E o perigo
Muda mesmo de endereço
Não existe pretexto
O dia mudou
O carteiro não veio
O princípio é o meio
E você retorna
Mas não tem volta..."
(Christiaan Oyens / Zélia Duncan)
despertar
Caí da cama e agora estou deitada, perdida, sozinha no chão frio do quarto. O frio da madrugada invade o quarto, envolve o meu corpo que, trêmulo, encolhe-se ainda mais. Mexo as pernas, estico os braços, procuro por você. Há pouco você estava ao meu lado, eu juro que sentia o calor do seu corpo junto ao meu. Você não está mais. Será que eu sonhava? Será que você era apenas uma ilusão vil da minha alma? Puxo a coberta, mas ela não me esquenta como você. Ainda posso sentir o seu cheiro, ainda posso escutar a sua respiração próxima de mim. Procuro de novo. É, você já se foi. Devo ter sonhado. Mas assim é a vida, nada pode estar tão bem. E nunca é fácil o despertar de um sonho bom.
terça-feira, 28 de agosto de 2007
mentiras
Escrevo pra ti, e é tudo tão
domingo, 26 de agosto de 2007
sentidos
É tarde, a madrugada já vai alta por hoje. A música toca, o corpo movimenta-se. Olhares, falsos olhares, no meio de pessoas desconhecidas. Olho ao redor, procuro por você. Mas, de novo, você não está. Então olho outra, ela me olha também, nos aproximamos. Conversas, flerte, mãos. A música embala os assuntos, a madrugada se encarrega de resto. Agora tento limpar o meu rosto. Tirar o toque que machuca a minha alma, que violenta os meus sentidos. A pele estranha o toque, as mãos doem por terem se fechado em outras que não as suas. O corpo arrepia-se, um arrepio ruim, um asco. Tento limpar os sentidos, esquecer o toque. Tomo água para não sentir o gosto da saliva, de outra saliva. Sinto febre, o corpo treme, a vontade se foi. Cadê você?
sonhos
Às vezes acordo no meio da noite. Olho para os lados e nada encontro. Queria te ver ali, minha pobre sorte perdida. Busco você em cada sonho, em cada noite mal dormida. Sinto os pés frios durante a madrugada, tocando os meus. As coxas gélidas, os lábios trêmulos no frio do sul. Sinto falta de quando o mundo era palpável, e quando, de tão pequeno diante de tanto amor, ele cabia em minhas mãos. Saudades de quando, ao amanhecer, olhava os olhos sonolentos, parados, perdidos em intensidades únicas, nossas, apenas nossas. Agora acordo de novo. Sonhei que havia sonhado ou o sonho foi real e só agora acordo? Não sei mais. Não sei mais dizer o que sinto e o que eu sou. Sou nada diante de tudo, mas tenho que ser tudo diante de nada. Diante do nada que sobrou de mim, de ti e de nós. A história mais bela tornou-se nada, e nem ao menos teve tempo de ser escrita, registrada e, talvez, lembrada como o “Romeu e Julieta” da internet. Comparar-se ao clássico. Pretensão?! Talvez. Ou não, também. Pois nada há de mais clássico que o amor, seja ele em que forma for. Mas também, nada há de mais trágico. Vou amargar cada dia no triste casebre que sobrou
imagens
sábado, 25 de agosto de 2007
escrevendo
Há tempos não me aventuro num dos meus maiores abrigos: a escrita. Acho que só sei escrever quando o que sinto transborda, e as palavras são nada mais do que água derramada sobre o papel. Escrevo pra dizer o que sinto, não para o mundo, mas para mim. Pra me convencer daquilo que eu nem ao menos faço idéia. Talvez para me lembrar de quem eu sou, de como sou. Ou ainda para expor ideologias perdidas, que ficarão apenas retidas num papel esquecido no fundo da gaveta, ou no fundo da memória. Hoje foi um típico dia em que tudo extravasou. Em que o rio de palavras, ou quem sabe de lágrimas, foi mais forte, incontrolável. Em meio ao caos, tento me achar, me procuro por aí e não me encontro. Talvez eu tenha morrido afogada num mar de palavras, ou sufocada pelo que abafo e não digo. Só sei que cansei de nadar entre as palavras ditas, perdidas, soltas por aí. Falar não basta mais, e por mais que eu escreva, ainda custo a acreditar. As palavras são frias, doces mentiras que a humanidade inventou. Não passam de uma forma vil e barata de comprar sentimentos. Um conjunto de belos fonemas agradáveis aos ouvidos e ao ego de quem escuta. De que valem as palavras, se elas não são capazes de traduzir o que sentimos de fato. Elas sempre são vagas, ineficazes, pobres. Ideologias baratas, vendidas a preço de custo, pois não custa nada produzi-las. Vou guardar tudo pra mim, morrer muda, calada. Cansei de fazer discurso, vender aquilo que nem posso comprar. Deixarei nada para o mundo, pois o mundo não é capaz de deixar algo
finalmente
(principalmente Gabi, Gi e Fábio)
prometo que tentarei mantê-lo atualizado
=**