quinta-feira, 6 de setembro de 2007

sombras

Ando por aí, sem rumo, sem destino. Caminho pelos dias frios, sombrios, escuros, apesar do sol forte que desenha sombras pelas calçadas antigas. Procuro uma parte de mim, esquecida, ou, talvez, sempre lembrada. Acho que a perdi pelo caminho, pela longa estrada que percorri um dia por alguém, por algo, por sonhos. Nada mais restou de grande porção de mim. Da melhor parte de mim. Era tão grande e, ao mesmo tempo, tão frágil, tão leve, tão tênue, que não devo ter percebido quando, em algum momento do longo caminho, a deixei cair, escorregar, deslizar pelas minhas mãos. Agora me pergunto como pude, como deixei acontecer. Me sentia tão forte quando a grande porção leve de mim andava ao meu lado. E, de repente, ela caiu, partiu-se, acabou. Ando agora procurando. Buscando em cada canto, em cada parte, em cada lugar inabitado, a porção maior de mim. Ou outra qualquer que sirva, que seja capaz de me preencher como a antiga porção de mim. Olho as sombras projetadas na calçada. São como as sombras que vagam e bailam dentro de mim. Vejo as sombras, sinto as sombras, mas não sou capaz de ver os objetos. A visão está turva, embaçada. Talvez pelas lágrimas que não saíram, que ficaram paradas, imóveis, incapazes de cair pela face. O jeito agora é olhar para dentro de mim, procurar a minha porção esquecida, ofuscada pelo brilho e pela intensidade da minha porção perdida.

Nenhum comentário: