sábado, 26 de janeiro de 2008

vazio

Amores vazios me completam. Preenchem o grande vazio de mim. Palavras vazias me completam. Preenchem os vãos vazios dos dentes na boca. Sentimentos vazios me completam. Preenchem os átrios e os ventrículos do músculo mais vazio do corpo. E eu, vazia, desprovida de mim, completo o mundo. Preencho o lugar que me cabe. Peça decorativa, apanhado de células vazias ocupando um lugar vazio do espaço.

opacidade

Não acendem, não piscam. Nada, nada. Não faz. Não acontece. Não acende a luz. É como tentar tocar o nada no escuro. É como querer alcançar o infinito. Talvez, eu tenha a pretensão de fazer parte dele. De integrá-lo. Ou, de querer sê-lo. Não sei, não sei. Nada, nada. Não acendem, não piscam. A luz tem brilho opaco. Matizes estranhas. Arco-íris em preto e branco.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

invasão

Tornado de sonhos, sentidos, sensações. Ele vem de longe e, agora, está tão perto, tão próximo. O vento agarra os meus cabelos, envolve o meu corpo, invade a minha alma. Perigo iminente, visível, real. Tento me segurar, me proteger do vento que quer me retirar daqui. O vento, forte, devastador é, ao mesmo tempo, tão doce, tão seguro, tão familiar. Difícil resistir às forças da natureza. À natureza dos sentidos que me invadem junto com o vento. Deixarei ele entrar, penetrar a carne, bagunçar os sentidos e, por fim, me tirar a razão.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

velhas tentações

São palavras que me tentam. Carregadas de sentidos, sentimentos e vontades. Perturbam a ordem em mim. Meu coração, tão bem treinado, diz que não quer mais obedecer. Sua vontade é sucumbir a uma ordem sem leis. Bate, agora, sem compasso, sem ritmo. Descontroladamente, desesperadamente. Bate no ritmo descompassado das perguntas que vêm, insistentes, à minha mente. Meus olhos não mais querem ver. Fecharam-se às verdades da minha alma, à racionalidade inerente. Sei que é errado, mas, também, sei que é real. Mais uma vez é real. De novo, vou tentar fugir. Fuga inválida pelos caminhos que me levam até o prazer.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

invenções inventadas

Invenções inventadas. Palavras repetidas, momentos vazios. Procuro o procurar. Procuro o verbo, a ação e não o objetivo. Busco fazer e, depois de feito, perde o sentido. Procuro nada mais que eu saiba. Procuro o vazio. Procuro uma caixa grande cheia de nada. Mas, o que importa, é procurar. Luto por tudo o que quero. Depois que eu consigo, perde a graça. É como pedir demais e se cansar de pedir. Procuro o nada. Procuro a vida. E nada, nada mais.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

motivos

Quando o cansaço entrar em seu corpo, anime-se. O ânimo traz mais cansaço. Quando você achar que nada vai mudar, não aguarde mudanças, opere-as. No final, até mudar vira rotina. Quando a tristeza bater à sua porta, alegre-se. A alegria, também, traz a tristeza. Quando você não agüentar mais caminhar, corra. Correr, lhe dará mais vontade de parar. Quando o sol estiver forte demais, não feche os olhos, abra-os. Doerá, mas você vai se acostumar com a luz. Quando tudo lhe parecer perdido, aposte mais alto. Quem sabe, você perderá a vida. Quando a noite lhe envolver em breu, respire fundo e deixe-se levar. A noite trará os seus medos, enfrente-os. Quando o seu amor partir, arrume outro. Este, também, partirá. Quando a vida perder a graça, viva mais. Viver nos aproxima da morte. Alegre-se.