terça-feira, 28 de junho de 2011

carta a um amigo

Sinto falta do tempo longo. Do tempo em que a conversa era prosa demorada. Tempo em que os verbos eram esticados, compridos, largos. Em que a correnteza era de palavras, enxurrada de letras que só tinham sentido misturadas. Sinto saudades daqueles tempos em que o rumo ninguém sabia. Ninguém entendia o curso do rio. E o rio era qualquer lugar, qualquer onda, qualquer marola que chegava de você a mim.

velha infância perdida

Manhã gelada, reconfortada pelo sol de inverno. Lá fora, nada além de geada. Orvalho petrificado, estático. Frio quase ártico. Deserto gelado, semi-árido. Na cama, verão. Sol de aquecedor, águas termais na torneira, invenções não mais modernas. E a vida segue. No frio, no calor. Tomamos o rumo de todo dia. Quando criança, a escola. No inverno, sala de aula tenebrosa. No verão, inferno. Dias felizes aqueles do nescau quente, do pão com manteiga derretida, do cobertor no sofá - extensão da cama, do desenho na manhã estendida. Saudades da sessão da tarde, nas tardes vadias. Saudades de preencher o dia com ideias revolucionárias ou, apenas, com brincadeiras vazias.