quinta-feira, 25 de outubro de 2007

visita íntima

As portas da cela se abrem. Faz tempo que você não aparece por aqui. Estou faminta, sedenta. Arrumei o pouco que tenho para te esperar. Todos os dias eu arrumo, na esperança de ver as grades se afastarem no início da noite para você passar. Em cima da pequena mesa tem uma caixinha de papelão. Nela, estão guardadas todas as cartas, todas as palavras, todas as promessas de me retirar da prisão que você fez. Você vem me visitar e diz que tem saudades. Ah como são boas e como doem essas palavras! Você, só você, tem o poder de me tirar daqui. Mas você diz que ainda não pode, que ainda é cedo. No fundo, você tem medo. Sabe o perigo que ofereço quando estou fora da prisão. Por isso, de vez em quando, você vem. Ora para alimentar o meu corpo faminto do seu, ora para dar de comer à minha alma carente de esperanças. Hoje, porém, você diz ter vindo para me buscar. Pena que já é tarde e os primeiros raios da manhã alcançam o meu rosto. Hora de acordar. Hora de libertar-me da prisão dos sonhos.

3 comentários:

Anônimo disse...

E ganhar a "liberdade" da realidade?!

Não sei se vale a pena!
E não sei se deixa de valer!

Lindo, lindo texto!

Guta Brandt disse...

pois é Adri...

"até que ponto a liberdade (ou seria outra forma de prisão?) da realidade vale a pena?"

essa, é ma pergunta sem resposta...e vai ser sempre...
pq só queremos a "liberdade da realidade" quando a nossa realidade corresponde aos sonhos que inventamos...
e só queremos os sonhos, quando estes são bons...

quando temos pesadelos, queremos acordar...
quando a realidade nos incomoda, queremos sonhar...

e aí?! o que fazer? o que esperar?

a verdade, a única verdade, é que o ser humano é eternamente insatisfeito...

Unknown disse...

Sempre queremos o que é muito difícil ou impossível. Talvez aí esteja a graça das coisas... sofrer... sofrer e chegar "lá"...

O grande problema, é que nem sempre chegamos... daí as frustrações!

Mas no fundo, nem que seja bem no fundo... " Viver é melhor que sonhar "