segunda-feira, 29 de outubro de 2007

mais o quê?

Classe média. Comida na mesa. Almoçar fora. Refrigerante e pipoca. Fome? O que é isso? Cinema. Shows. Teatro. Cultura e educação. Colégio bom. Faculdade paga. Oportunidades. Emprego. Carteira assinada. Cartão de crédito. Patrão. Papai e mamãe. Família perfeita. Preconceito? O que é isso? Cachorro, gato, irmãozinho. Vovó e madrinha. Presentes. Natal, aniversário, páscoa. Festas. Inglês. Espanhol. Italiano. Ballet clássico. Plano de saúde. Dinheiro para os remédios. SUS? O que é isso? TV, som e computador. Novas tendências. Cama arrumada. Cobertor e edredon. Banheira quente. Chuveiro a gás. Frio? O que é isso? Brinquedos na infância. Psicólogo. Aulas de etiqueta. Boa educação. Direitos garantidos. Justiça amiga. E você ainda quer o direito de ser infeliz?!

7 comentários:

Anônimo disse...

(In)Felicidade não distingue as pessoas Guta, enquanto sofremos com tudo que precisamos em mãos, por aí uma pessoa miserável e esquisita se delicia com as coisas mais simples da vida...

E tudo é compensado, de uma forma ou de outra...

Anônimo disse...

*ESQUECIDA, não esquisita!

Guta Brandt disse...

será mesmo que tudo é compensado?

acho que não...eu acho que, muitas vezes, temos sim obrigação de sermos felizes...

admiro aqueles que não sofrem, apesar do que não têm...
e me "condeno" por ver que "o nosso amor sem risco e sem glória, se escora na história do país do desgosto"...

não condeno quem sofre tendo tudo o que eu falei...
mas acho que devemos ser felizes quando temos a capacidade de enxergar além do nosso sofrimento...
olho para o lado e vejo que algumas coisas são medíocres...

não tenho filhos...
mas, acredito, perder um amor é muito menos doloroso do que olhar para o lado e ver o seu filho com fome...e aí, você abre os armários e vê que não tem nada ali...

(quem, por acaso, ler o que acabo de escrever, vai pensar que eu condeno as pessoas por terem o que tem...por terem mais condições, talvez...mas, não é isso...
não condeno quem tem, condeno quem tem e não é capaz de dividir, não é capaz de sair do seu mundinho de sofrimentos medíocres e se alegrar com tudo o que tem...apesar do sofrimento que possa estar passando...
sim, muitas vezes, temos obrigação de sermos felizes!)

Guta Brandt disse...

Completando o que eu não consegui dizer ontem...

O problema não é que as coisas se tornam banais. Mas, sim, que elas já SÃO banais...

Escrevi esse texto depois de andar uma tarde inteira no centro. É muito deprimente...
O ônibus que não pára pro velhinho que faz sinal, a criança que é expulsa da padaria por estar mal vestida, a comida que renegam àqueles que sentem fome...

Há quem, ao ler o que eu falei acima, pense: "ah, mas não trabalham porque não querem...preferem ficar pedindo na rua..." ou então "ah, eu não tenho tempo...tenho casa, família, filhos pra sustentar também".

E, de fato, temos mesmo muitas coisas para resolver no nosso mundinho pobre e podre...
Essas coisas me irritam. É egocentrismo puro. Estamos oucupados demais resolvendo os nossos probleminhas medíocres e não podemos parar, 1 minuto apenas, e prestar atenção no outro...
Não é prestar atenção para condenar, para julgar...
É livrar-se, despir-se de todo e qualquer preconceito e SENSIBILIZAR-SE com a vida alheia, com a história de cada um.

Quando escrevi cada palavra desse texto, foi numa revolta contra mim mesma.
Eu andei o dia todo embaixo de um sol fdp...estava morta quando cheguei em casa.
Aí, quando cheguei, pensei: "ah, vou tomar banho, ouvir música, comer e 'fazer nada' na frente do pc".
Fiz tudo isso. Enchi o bucho, refresquei a pele e liguei o pc.
Abri o word e escrevi meia dúzia de palavras sobre os meus problemas, selecionei tudo e deletei.

Por que deletar?
Porra! A minha vida é muito boa perto de tudo o que existe no mundo...
Não me acho no direito (embora, às vezes me sinta) de me sentir tão infeliz.

Alguns, vão ler e vão pensar que estou dando um tapa na cara de cada pessoa...
Mas não é isso. Não apenas.
Antes de bater na cara dos outros, estou batendo na minha própria...

Anônimo disse...

E na minha, e na de todo mundo que sofre as dores ingratas desse mundo...

Não tenho muito o que responder, vivo reclamando da vida, da minha, da dos outros... Mas o que faço é muito pouco para melhorar até mesmo a mim!

Sei lá...
É isso... Sei lá

Guta Brandt disse...

Entendo, Adri...

E não julgo, na verdade.
O que eu julgo aqui, o que eu questiono, é o meu "sei lá" diante do mundo...

Pode ser que, a partir das minhas reflexões, eu provoque esse questionamento e esse auto-julgamento em outras pessoas. E isso, seria muito bom. Mas não é esse o objetivo inicial. Não tenho a pretensão de julgar ninguém aqui.
Não sou ninguém para fazer isso.

Mas o fato é que acredito num mundo melhor e mais justo. Acho que muitas pessoas ainda acreditam.
Ou melhor, se não acreditam mais, ao menos ainda sonham com isso. Mesmo que desacreditando no sonho.
A diferença, é que eu sonho e acredito.
Acho que podemos ter um mundo melhor.
Se cada um de nós parar para pensar ao menos um pouco. Se cada um de nós parar de "jogar" a culpa em cima dos outros e começar a assmir os seus próprios erros e falhas.
Quando falam mal dos políticos, antes de ajudar as pessoas a meterem o pau, eu questiono: "em quem você votou? "Você lembra?" "você cobra dos políticos a participação deles? as promessas deles?"
e qual é a resposta? "NÃO!"
Porque ninguém faz isso. Ninguém quer se incomodar. Todos são muito bons para fazer cobranças, e péssimos para agir.

Se tenho que provocar algum tipo de reflexão em alguém, que esta seja: "por que eu não faço a mina parte antes de cobrar a dos outros??"

Que fique claro, aqui, que eu não estou defendendo político nenhum. Mas, estou criticando as pessoas e a mim mesma, sim.
Se a função de quem está o poder é garantir o bem-estar público, é função de quem colocou os poderosos no poder garantir que o bem-estar seja validado, seja cumprido.

Esse exemplo é geral. É para tudo na nossa vida.
Temos o péssimo hábito de nos acomodar, de deixar passar, de fechar os olhos para os problemas.

Vamos abrir os nossos olhos então?

Eu estou tentando abrir os meus...

Anônimo disse...

Também tento abrir os meus...
Mas, confesso, é difícil...

Durante toda a vida fiz alguma coisa para ajudar quem precisava... nem que fossem projetos com a escola... e me sentia bem! Agora, faz tempo que nada faço!

Abriu meus olhos, sim!
Só preciso de um pontapé bem grande agora para agir!