Pontevedra é cheia de praças, uma mais bonita que a outra. Todos os dias ando um pouco mais para conhecê-la. Semana que vem meus horários entrarão nos eixos. Por enquanto, limito-me a acordar, comer e passear. E, quando a saudade aperta, é hora de andar por aí e sentar em algum lugar para escrever. Já percebi que não sou muito boa com diários. Não consigo descrever rotinas e lugares sem deixar que meu interior interfira no relato. Talvez por, como já disse, estar muito mais num processo de auto-conhecimento do que conhecendo, de fato, a cidade. Todos os dias aprendo um pouco mais com a minha própria solidão. Saio a noite, conheço pessoas, jantares e almoços sempre cheios de gente. Tudo tão cheio e tão vazio. Aqui experimento a sensação de ser nada mais do que um corpo estranho. Vago por ruas que desconheço, falo uma língua que não é a minha. Clarice tem sido a minha companhia constante. Por maior que seja a coincidência, o único livro dela que encontrei chama-se "Aprendiendo a vivir". São muitos contos da sua infância e das suas impressões tão ingênuas. E é, justamente, como essa menina Clarice que eu me sinto. Uma menina perdida num mundo gigante. Aprendendo, sozinha, o prazer e o enorme desprazer da solidão. No Brasil, por mais longe que estejamos de casa, ainda temos a nossa língua, o nosso país, o nosso lugar. Aqui não. Tenho duas malas de roupa e alguns objetivos. Objetivos que perderam a razão de ser em meio a tantos sentimentos misturados. Como disse Clarice, um dia, tenho apenas o prazer e o privilégio de estar viva. E, delicadamente viva, como, caminho e durmo. "Sozinha observo melhor as cores". De fato, tenho podido observar melhor as minhas cores. Não deixarei, então, que a minha alma torne-se cinza.
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