sexta-feira, 31 de agosto de 2007

flor

Era tudo tão bonito. Era tudo tão perfeito. A nossa vida era tão certa, tão boa. A felicidade invadia, não pedia licença para entrar. Ela simplesmente entrava, bela, graciosa. Como uma flor, pequena flor, que nasce em meio ao caos das montanhas vazias. A flor é única. Ela simplesmente nasce, não escolhe o lugar, nem o dia, nem o momento mais apropriado. E seu único objetivo é sobreviver, é superar o frio da montanha, as tempestades do inverno, para, mais uma vez, aparecer bela durante a primavera. A nossa flor não resistiu. As montanhas eram muito distantes, não barravam o vento frio que soprou durante o inverno. Agora é setembro, chegou a primavera. E cadê a flor? Ela está lá, estática, parada, acabada. Repousa no chão gélido da montanha. Está secando, apodrecendo ao sol de setembro.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

toque de emoção

"Passou
Ainda bem que tudo já passou
E sinto que saí da tempestade
De alma vazia e coração pela metade
Quem disse que não dói
Não diz verdade
Talvez por não saber o que é saudade,
E essas coisas só se aprende com o tempo não depende da vontade
Passou
Ainda bem que tudo já passou
Mas fatos do passado estão presentes deixaram esse vazio e a solidão
Eu vivi um sonho novo
E esse amor imprevisível
De repente, o teu adeus
Que eu não pensei que era possível
Reações inesperadas sem razão
O coração é mesmo incrível
E se eu penso
Não te entendo
E se te entendo
Não aceito
Coração desesperado
E essa mágoa no meu peito
Eu te quero mais que tudo
E esse amor tão absurdo
Não tem jeito"

(Joanna)

presidiária

Perdida no tempo e no espaço, sentada, solta, calada sob o sol. Horizonte deserto, nada de imagens e nada de sons. Espero o que eu sei que não virá. Risco dias no calendário, contagem regressiva para o retorno imaginário e para sempre adiado. Fico sonhando, imaginando. Chego a te ver novamente. Estico as mãos, estendo os braços, mas não te alcanço. Esforço vago, em vão, inútil. Procuro novamente seus olhos. Onde estão seus olhos? Não os vejo. Estão longe, distantes de mim. Mas calma, não são seus olhos. É apenas a imagem projetada, a ilusão de ótica da minha alma. Estou cega para a realidade. Meus olhos me enganam, escondem os fatos. Tento, incansavelmente, te entender. Busco razões, motivos, explicações para o que não se explica. Tento velar, camuflar os fatos, o que está claro, límpido, inalterável. Tento acreditar em mim, acima de tudo. Nas mentiras que eu mesma invento. Tentativa frustrada de te entender. O calendário dentro de mim parou, os dias não nascem mais. Não vejo o sol, tornei-me presidiária de mim.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

não tem volta

"Se você vai por muito tempo
Você nunca volta
Você retorna
Você contorna

Mas não tem volta, volta
A estrada te sopra pro alto
Pra outro lado
Enquanto aquele tempo
Vai mudando
Aí, de quando em quando
Você lembra
Aquele beijo
Aquele medo
Mas você sabe
Que tudo ficou antigo
E você não volta
Nem com escolta
Nem amarrado
Porque o passado
Já te perdeu

E o perigo
Muda mesmo de endereço
Não existe pretexto
O dia mudou
O carteiro não veio
O princípio é o meio
E você retorna
Mas não tem volta..."

(Christiaan Oyens / Zélia Duncan)

despertar

Caí da cama e agora estou deitada, perdida, sozinha no chão frio do quarto. O frio da madrugada invade o quarto, envolve o meu corpo que, trêmulo, encolhe-se ainda mais. Mexo as pernas, estico os braços, procuro por você. Há pouco você estava ao meu lado, eu juro que sentia o calor do seu corpo junto ao meu. Você não está mais. Será que eu sonhava? Será que você era apenas uma ilusão vil da minha alma? Puxo a coberta, mas ela não me esquenta como você. Ainda posso sentir o seu cheiro, ainda posso escutar a sua respiração próxima de mim. Procuro de novo. É, você já se foi. Devo ter sonhado. Mas assim é a vida, nada pode estar tão bem. E nunca é fácil o despertar de um sonho bom.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

oposição

Eu
Fortaleza
Você
Fraqueza
Somos duas

Somos assim...
Forças diferentes
E que entre si
Se anulam

mentiras

Escrevo pra ti, e é tudo tão em vão. Nada do que eu diga, pense ou sinta, parece ter valor. Sofro, amargo cada parte em mim. Leio as palavras duras que sempre temi, descubro as tristezas que sempre repudiei. Vivo de incertezas. Queria tanto te ver aqui, te encontrar por aqui. Mas aí me pergunto, seria real? Você traz sempre as palavras mais doces, as melhores mentiras. Busco, e sempre encontro, as palavras de amor esperadas. Queria tanto acreditar. O maior de todos os meus sonhos agora é a ignorância. Eu queria ser ignorante de tudo. Eu queria voltar a sonhar, a te esperar. Será que você ainda vem? Em mim, encontro o sim e o não. Prefiro acreditar no sim, mas a racionalidade do não é latente, inegável. Acordo perturbada, vivo perturbada. Olho ao redor e tudo o que eu vejo é a imagem que me tira o sono, que adoece a alma. São outros braços, outras mãos, outro corpo e são, sempre, as mesmas mentiras.

domingo, 26 de agosto de 2007

sentidos

É tarde, a madrugada já vai alta por hoje. A música toca, o corpo movimenta-se. Olhares, falsos olhares, no meio de pessoas desconhecidas. Olho ao redor, procuro por você. Mas, de novo, você não está. Então olho outra, ela me olha também, nos aproximamos. Conversas, flerte, mãos. A música embala os assuntos, a madrugada se encarrega de resto. Agora tento limpar o meu rosto. Tirar o toque que machuca a minha alma, que violenta os meus sentidos. A pele estranha o toque, as mãos doem por terem se fechado em outras que não as suas. O corpo arrepia-se, um arrepio ruim, um asco. Tento limpar os sentidos, esquecer o toque. Tomo água para não sentir o gosto da saliva, de outra saliva. Sinto febre, o corpo treme, a vontade se foi. Cadê você?

sonhos

Às vezes acordo no meio da noite. Olho para os lados e nada encontro. Queria te ver ali, minha pobre sorte perdida. Busco você em cada sonho, em cada noite mal dormida. Sinto os pés frios durante a madrugada, tocando os meus. As coxas gélidas, os lábios trêmulos no frio do sul. Sinto falta de quando o mundo era palpável, e quando, de tão pequeno diante de tanto amor, ele cabia em minhas mãos. Saudades de quando, ao amanhecer, olhava os olhos sonolentos, parados, perdidos em intensidades únicas, nossas, apenas nossas. Agora acordo de novo. Sonhei que havia sonhado ou o sonho foi real e só agora acordo? Não sei mais. Não sei mais dizer o que sinto e o que eu sou. Sou nada diante de tudo, mas tenho que ser tudo diante de nada. Diante do nada que sobrou de mim, de ti e de nós. A história mais bela tornou-se nada, e nem ao menos teve tempo de ser escrita, registrada e, talvez, lembrada como o “Romeu e Julieta” da internet. Comparar-se ao clássico. Pretensão?! Talvez. Ou não, também. Pois nada há de mais clássico que o amor, seja ele em que forma for. Mas também, nada há de mais trágico. Vou amargar cada dia no triste casebre que sobrou em mim. Mas quem sabe, um dia, eu me orgulhe de ter sido a rainha deposta, do nosso antigo castelo. Refugio-me em mim, nos meus sonhos. Ou melhor, nos meus projetos de sonhos. Aos poucos, demoradamente, vou me recompondo. Levanto-me, ergo a cabeça, empino o nariz. Serei forte, serei eu, serei mulher. Mas é tarde, já passam das dez, e está na hora de acordar. Pronto, terminei meu primeiro projeto de sonho.

imagens

As fotografias trazem sempre uma parte de nós...guardam, num instante luminoso, um pedaço das nossas vidas. Um dia, quando a nossa vida não mais tiver graça, e quando os momentos luminosos deixarem de ser importantes, sentaremos com as fotografias antigas em mãos...e recordaremos cada passo, cada momento e cada instante luminoso gravado no papel. Reviveremos cada passagem em nossa memória, como um filme antigo esquecido em algum lugar. E sim, vai doer. Pois o passado, sempre dói...

sábado, 25 de agosto de 2007

escrevendo

Há tempos não me aventuro num dos meus maiores abrigos: a escrita. Acho que só sei escrever quando o que sinto transborda, e as palavras são nada mais do que água derramada sobre o papel. Escrevo pra dizer o que sinto, não para o mundo, mas para mim. Pra me convencer daquilo que eu nem ao menos faço idéia. Talvez para me lembrar de quem eu sou, de como sou. Ou ainda para expor ideologias perdidas, que ficarão apenas retidas num papel esquecido no fundo da gaveta, ou no fundo da memória. Hoje foi um típico dia em que tudo extravasou. Em que o rio de palavras, ou quem sabe de lágrimas, foi mais forte, incontrolável. Em meio ao caos, tento me achar, me procuro por aí e não me encontro. Talvez eu tenha morrido afogada num mar de palavras, ou sufocada pelo que abafo e não digo. Só sei que cansei de nadar entre as palavras ditas, perdidas, soltas por aí. Falar não basta mais, e por mais que eu escreva, ainda custo a acreditar. As palavras são frias, doces mentiras que a humanidade inventou. Não passam de uma forma vil e barata de comprar sentimentos. Um conjunto de belos fonemas agradáveis aos ouvidos e ao ego de quem escuta. De que valem as palavras, se elas não são capazes de traduzir o que sentimos de fato. Elas sempre são vagas, ineficazes, pobres. Ideologias baratas, vendidas a preço de custo, pois não custa nada produzi-las. Vou guardar tudo pra mim, morrer muda, calada. Cansei de fazer discurso, vender aquilo que nem posso comprar. Deixarei nada para o mundo, pois o mundo não é capaz de deixar algo em mim. Esquecerei minhas ideologias, minhas vontades. Elas são grandes demais, não cabem nesse mundo.

finalmente

bem, tá aí o blog para quem queria...
(principalmente Gabi, Gi e Fábio)

prometo que tentarei mantê-lo atualizado

=**