Somos muitos, caminhando às cegas. Ignorantes do nada que nos engole. Somos burros, muitos, estúpidos. Novela ou filme? Não seja míope! Realidade inventada, irrealidade forjada. Brindando, às cegas, ao nada que nos absorve. A dor é do tamanho da alma. A alma, calma, entrega-se, às cegas, ao nada que lhe deflora. Sou, apenas eu, a burra que se entrega. Rastejando, às cegas, no nada que me consome.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
ideal (i)moralidade
A rotina era louca, quase frenética, e os dias transcorriam sem paz. Assim Curitiba era o plano de fundo de uma vida repetitiva. Repetição difícil de carregar quando só se tem 20 anos. Faculdade, trabalho, casa. Na faculdade, amigos, rostos conhecidos e desconhecidos. Um ambiente que era meu e no qual sempre estive à vontade, gostava dali. Durante o correr do dia, um trabalho que era, até certo ponto, o que eu queria. Até certo ponto porque, aos 20 anos, é comum ainda termos ideais.
Ideais?! Entrei na faculdade de jornalismo aos 18 anos. Política por essência, crítica até onde não posso e uma paixão: a escrita. Aliás, nem tanto uma paixão. Mas, sim, uma grande necessidade. Muitos são os motivos que me fazem escrever e muitos são os momentos que me inspiram. Mas, quando pensei em “escrever jornalismo”, em falar a uma massa completamente desconhecida, pensei, sobretudo, em mudança. E quem, em plenos 18 anos, não pensou em mudar o mundo? O jornalismo era a ferramenta de acesso a um mundo que me indignava. E ainda me indigna. As palavras seriam como chaves para modificar aquilo que tanto me revoltava e angustiava. E que não deixou de revoltar e angustiar, ainda. Mas, como acontece com a maioria, sinto que começo a me acomodar. E isso, sim, me angustia mais do que qualquer outra coisa. Porque significa que estou começando a deixar meus sonhos adormecerem. E pode ser tarde quando eles resolverem despertar. Sonhos e idéias. Sempre carreguei muitos deles na “bagagem”. Sempre tive muito que falar, muito que pensar. Mas, o jornalismo não é tudo o que se pensa e tudo o que se pensa, por sua vez, nem sempre cabe no jornalismo. E tampouco é aplicável a uma realidade, mais do que real. Descobrimos isso quando, por acidente ou crueldade inicial de um professor, nos damos conta de que seremos, somente, “mais alguns”. Mais uma turma que se formará, mais profissionais que disputarão uma vaga num mercado abarrotado, mais gente para conformar-se. Mais alguns dispostos a escrever o que alguém manda, afinal, é preciso sustentar-se. E aí você fica entre a cruz e a espada, pensando e se questionando: escrever o que quero e morrer de fome ou escrever o que mandam e viajar nas férias? Decisão difícil quando se nasce em classe (quase) média (quase) alta e se está habituada a um padrão, no mínimo, bem razoável.
No entanto, em decorrência da decisão pelo jornalismo (constantemente em pauta), muitas outras vieram. Ao optar por ser jornalista, passei, também, a entender a profissão escolhida como uma ferramenta para atingir novos ideais. Ideias e opiniões pessoais, é claro, mas que encontraram eco na voz e, por que não, no sofrimento de muitos outros iguais na diferença e no descompasso com as ordens sociais vigentes. Do meu “grande defeito”, fiz causa de luta e motivo de orgulho.
Aliás, o que é um “grande defeito”? Meu pouco repertório ou minha deficiente formação me indicam que não ter princípios éticos e morais, falta de escrúpulos e caráter são grandes defeitos. Mas, não. Isso a gente até releva, isso as pessoas entendem ou escondem embaixo do tapete. Hoje a vida privada é mais importante que a pública. Mais interessante é saber com quem eu durmo do que ler o expediente de algum órgão público e cuidar dos interesses que são de todos, comuns à vida de uma população que, infelizmente, não se identifica como tal, que não se entende como um “todo”. E aí eu pergunto: para que isso importa? Até que ponto saber o que eu faço dentro da vida que, creio eu, cabe somente a mim viver, é importante ou relevante? Vivo minha vida, levo meus dias. E é triste ou deprimente (para aqueles que insistem em saber e depreciar o que cabe ao privado) pensar que ainda há quem se feche em conceitos ultrapassados e irreais. É triste perceber que “respeito” é um conceito com diferentes pesos. Hoje, somos privados de direitos que deveriam ser universais. Não temos os mesmos direitos civis. E por quê? Muitos são os pretextos, modelos e justificativas. Num país onde todos os dias milhares de crianças crescem sem dignidade alguma, somos nós os imorais. Sim, claro, duas mães, um filho e nenhum pai (pelo menos conhecido). - Que modelo é esse?, perguntaria uma senhora, mãe e, quem sabe, até avó, socialmente respeitável, com vida estável e aposentadoria garantida, viúva e com direito a receber a pensão do marido morto e que, depois de ter, literalmente, pulado a cerca algumas vezes quando mais nova, veste-se de negro, vai à missa e reza, como se fosse melhor ou estivesse acima de mim, ou de tantos outros, eu diria, até mais dignos (no sentido real do que podemos entender por “dignidade”). A imoralidade bate à nossa porta todos os dias, porém não abro. E não abrirei. Quando eu abrir, estarei corroborando o preconceito que nos marginaliza. Estarei concordando com as normas que dizem a uma criança que é melhor não ter mãe do que ter duas, que é melhor crescer num modelo sem escrúpulos, sem moral, sem saúde, sem infância, sem comida. Por enquanto, dou minha cara a tapa e espero. Ainda há muito o que se pensar, ainda há muito o que mudar...
Ideais?! Entrei na faculdade de jornalismo aos 18 anos. Política por essência, crítica até onde não posso e uma paixão: a escrita. Aliás, nem tanto uma paixão. Mas, sim, uma grande necessidade. Muitos são os motivos que me fazem escrever e muitos são os momentos que me inspiram. Mas, quando pensei em “escrever jornalismo”, em falar a uma massa completamente desconhecida, pensei, sobretudo, em mudança. E quem, em plenos 18 anos, não pensou em mudar o mundo? O jornalismo era a ferramenta de acesso a um mundo que me indignava. E ainda me indigna. As palavras seriam como chaves para modificar aquilo que tanto me revoltava e angustiava. E que não deixou de revoltar e angustiar, ainda. Mas, como acontece com a maioria, sinto que começo a me acomodar. E isso, sim, me angustia mais do que qualquer outra coisa. Porque significa que estou começando a deixar meus sonhos adormecerem. E pode ser tarde quando eles resolverem despertar. Sonhos e idéias. Sempre carreguei muitos deles na “bagagem”. Sempre tive muito que falar, muito que pensar. Mas, o jornalismo não é tudo o que se pensa e tudo o que se pensa, por sua vez, nem sempre cabe no jornalismo. E tampouco é aplicável a uma realidade, mais do que real. Descobrimos isso quando, por acidente ou crueldade inicial de um professor, nos damos conta de que seremos, somente, “mais alguns”. Mais uma turma que se formará, mais profissionais que disputarão uma vaga num mercado abarrotado, mais gente para conformar-se. Mais alguns dispostos a escrever o que alguém manda, afinal, é preciso sustentar-se. E aí você fica entre a cruz e a espada, pensando e se questionando: escrever o que quero e morrer de fome ou escrever o que mandam e viajar nas férias? Decisão difícil quando se nasce em classe (quase) média (quase) alta e se está habituada a um padrão, no mínimo, bem razoável.
No entanto, em decorrência da decisão pelo jornalismo (constantemente em pauta), muitas outras vieram. Ao optar por ser jornalista, passei, também, a entender a profissão escolhida como uma ferramenta para atingir novos ideais. Ideias e opiniões pessoais, é claro, mas que encontraram eco na voz e, por que não, no sofrimento de muitos outros iguais na diferença e no descompasso com as ordens sociais vigentes. Do meu “grande defeito”, fiz causa de luta e motivo de orgulho.
Aliás, o que é um “grande defeito”? Meu pouco repertório ou minha deficiente formação me indicam que não ter princípios éticos e morais, falta de escrúpulos e caráter são grandes defeitos. Mas, não. Isso a gente até releva, isso as pessoas entendem ou escondem embaixo do tapete. Hoje a vida privada é mais importante que a pública. Mais interessante é saber com quem eu durmo do que ler o expediente de algum órgão público e cuidar dos interesses que são de todos, comuns à vida de uma população que, infelizmente, não se identifica como tal, que não se entende como um “todo”. E aí eu pergunto: para que isso importa? Até que ponto saber o que eu faço dentro da vida que, creio eu, cabe somente a mim viver, é importante ou relevante? Vivo minha vida, levo meus dias. E é triste ou deprimente (para aqueles que insistem em saber e depreciar o que cabe ao privado) pensar que ainda há quem se feche em conceitos ultrapassados e irreais. É triste perceber que “respeito” é um conceito com diferentes pesos. Hoje, somos privados de direitos que deveriam ser universais. Não temos os mesmos direitos civis. E por quê? Muitos são os pretextos, modelos e justificativas. Num país onde todos os dias milhares de crianças crescem sem dignidade alguma, somos nós os imorais. Sim, claro, duas mães, um filho e nenhum pai (pelo menos conhecido). - Que modelo é esse?, perguntaria uma senhora, mãe e, quem sabe, até avó, socialmente respeitável, com vida estável e aposentadoria garantida, viúva e com direito a receber a pensão do marido morto e que, depois de ter, literalmente, pulado a cerca algumas vezes quando mais nova, veste-se de negro, vai à missa e reza, como se fosse melhor ou estivesse acima de mim, ou de tantos outros, eu diria, até mais dignos (no sentido real do que podemos entender por “dignidade”). A imoralidade bate à nossa porta todos os dias, porém não abro. E não abrirei. Quando eu abrir, estarei corroborando o preconceito que nos marginaliza. Estarei concordando com as normas que dizem a uma criança que é melhor não ter mãe do que ter duas, que é melhor crescer num modelo sem escrúpulos, sem moral, sem saúde, sem infância, sem comida. Por enquanto, dou minha cara a tapa e espero. Ainda há muito o que se pensar, ainda há muito o que mudar...
Por
Guta Brandt
às
12:05
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
sabe?
Sabe, às vezes me pergunto até onde, até quando. Não sei, nunca se sabe. Mas, sabe? Me questiono até o mais profundo íntimo, percebo o ritmo, caminhando às cegas, ignorando a estrada. Embrenhada em mata densa, longa caminhada, passos incertos, para onde mesmo é que vai o destino? Não sei, nunca se sabe. Entende? Compreende? Ou será que você, também, simplesmente me ignora. Eu grito. Eu falo. Não sei até onde, não sei até quando. Mas sigo, questionando o mundo e suas verdades inventadas.
Por
Guta Brandt
às
11:41
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
(in)consciente, (a)normal
Você anda por aí, caminha. Pescoço ereto, caminhos retos. Olhando sempre para frente, caminhando igual, e eu sempre diferente. Na contra-mão de um mundo meu, mas nem tanto quanto é seu. E o que ele pensa pouco me importa. Continuarei seguindo, traçando minha estrada independente, curva e, sobretudo, torta. Ao seu lado eu sigo, ziguezagueando pelos seus caminhos, trançando seu destino intacto. Muitas semelhanças, distintas diferenças, uma principal. A consciência de que tudo é plenamente normal. E, enquanto você escuta o mundo, eu apenas escuto, cada vez mais fundo, a minha própria voz.
Por
Guta Brandt
às
17:43
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Cruce del oceáno...
En mis sueños, un pequeño pueblo se muestra. Muy cerca de mi, puedo tocarle, aunque estea muy lejos en la injusta distancia de la geografia. En mi distancia y a mi tiempo, puedo caminar otra vez (y ya lo sé que muchas otras lo haré) por las calles de la ciudad que, hoy, es algo de mi corazón. Me acordo de todo, de cada lugar y cada espacio. Mis viajes son frecuentes y me encantaria que así fuíse en mi realidad. Recuerdo el tren, la estación. En los trenes de la vida, hay gente que viene y quedase y otras que van y, quizá, jamás vuelven. Me gustaría ser de la gente que se queda. Por lo menos en el corazón y los recuerdos de otras personas. Gente, esta, que sin duda está entre los mios y en mi corazón. De España traigo mis recuerdos más dulces, de una vida que se ha cambiado mucho, de un tiempo que no vuelve y de personas que están por arriba y mucho más allá de todo, pues hoy son un pedazo de mi. Y puede que España no estea más en mis caminos como quiero y sueño otra vez, pero sus caminos y su gente llevaré siempre conmigo, al lado de lo mejor que puedo llevar. Y cuanto al Atlántico, lo atravesaré siempre, siempre, siempre...
(Para todos aquellos que me han dejado una huella en el corazón y que han hecho de España algo de lo mejor de mi vida. En especial: mis tios, Carmen y Publio, por dejarme hacer parte de su família; Gustavo, por traerme lo mejor de nuestro país y por todas sus "verciladas" y Ana, por haber sido "la primera" y por la sincera acojida a alguién a quien no conocía...)
Por
Guta Brandt
às
23:05
terça-feira, 12 de maio de 2009
"luz-ciana"
Por algum motivo, incerto ou não, lhe escrevo. O passado o, como diz o próprio nome, já passou. E não são poucos os fatos passados. Muitas são as lembranças e os bons momentos para relembrar. Lembranças que nos tornam mais vivos. Recordar é ter certeza de estar vivo ou estar vivo é recordar. O presente não é possível sem passado e, por algum motivo (talvez impreciso como o que me leva a escrever) você passou de um feliz passado guardado a um presente vivo e, ainda que redundante, presente. Bendita seja a tecnologia que torna a presença e o contato possíveis. Porém, ela é só um meio, uma forma de aproximação, que de nada adianta se não houver esse "porque" inexplicável, ou tão simples pra nossa complexa incompreensão. E seja qual for o "porque", serei eternamente grata por lhe ter por perto, minha quase mãe. Se não fisicamente ao lado, de algum modo presente em minhas raízes guardadas e habitante, sempre, do meu coração.
Por
Guta Brandt
às
04:19
quinta-feira, 7 de maio de 2009
quase partida
Há poucas horas você se foi.Viagem curta, porém doída. Comecei a juntar coisas, empilhar meus livros, guardar nossos enfeites e fotografias. Tão dolorido. Cada peça fora do lugar ia tornando mais cinza o olhar. Aos poucos, e cada vez mais, ia sumindo o colorido.E segurar cada objeto foi como segurar nossas mais doces lembranças. Palpáveis de tão vivas. Um mês, dois meses, três, quatro, cinco. O tempo é ingrato quando amamos.Galopa, corre em ritmo acelerado e, quando nos damos conta, nos abandona, já não está ao nosso lado. E dói sentir o abandono do tempo, esse infiel companheiro que, às vezes, parece ser eterno. Agora a sensação é de tempo esgotado. O vazio toma conta, as lágrimas nos inundam, coração apertado. Mas, confiarei no tempo. Logo, sentiremos que, de novo, nossos olhares se cruzam, nossos corpos se unem e o coração bate aliviado. O mesmo tempo que vai, é o tempo que volta.
Por
Guta Brandt
às
13:06
quarta-feira, 22 de abril de 2009
bipartida
Logo logo será hora de partirmos. Vôos distintos, caminhos novos e, apesar de planejados, desconhecidos. As mesmas ruas, com nomes de história, mas outras cidades, muitos abismos. Planos longínquos no mesmo mapa. Planaltos altos, planos altos, inatingíveis? Azul aí, cinza aqui. Chuva nos dois lados. Refrescante ou congelante? Sufocante. Água que inunda a rua, imunda, cava funda, cova profunda. Seguiremos buscando. Perdendo ou encontrando? Enganando a distância, distanciando a ânsia, ansiando a calma, acalmando a alma.
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Guta Brandt
às
16:28
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