domingo, 4 de maio de 2008

memórias de um suicida

Seguro a faca afiada com força. As mãos quentes pelo sangue que corre esquentam, também, o cabo gelado da faca empunhada. Rasgo a pele e o sangue escorre. Limpo o líquido vermelho e pungente que insiste em escorregar pelos retalhos de pele grossa. Está frio, mas o calor do sangue me esquenta. A dor é gritante. Tão gritante que me cala, sofrendo quieta e muda. A memória se confunde com as impressões de agora. Não sei se choro pelo presente ou pela dor de outrora. Nem sei, ao menos, se o líquido quente e salgado que agora pinga dos olhos é sangue ou lágrima. Continuo recortando-me. Pedaço por pedaço, víscera por víscera. O sangue, agora, corre com mais força. No que sobrou do corpo, nos pedaços da alma e, também, nas pedras da calçada.

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