segunda-feira, 26 de novembro de 2007

hábito

Puro hábito. Escrevo apenas por escrever. Não me pergunte o que dizem os meus textos, não saberei lhe dizer. Eles falam de dor, de vida, de morte, de sonhos. Mas não sei o que falo ou penso sobre essas coisas. Ensaio palavras, pronuncio pretensões de uma pequeno-burguesa de barriga cheia. Escrevo porque o papel aceita tudo. Pobre coitado mudo. Ele não pode protestar as minhas idéias. Não pode discordar de mim. Falo de fome sem senti-la, falo de dor sem ter perdido um filho, falo de vida sem viver a minha, falo de morte sem lembrar das vezes em que eu morri. No fundo, somos todos hipócritas. Baile de máscaras no salão nobre do mundo. Burguesia suja. Aquele que está dançando lá trás é o representante de uma ONG de proteção à criança e é o pai que bate em seus filhos atrás das quatro paredes de sua mansãozinha. Você é aquele que se revolta vendo o Jornal Nacional, come chocolate, bebe coca-cola no intervalo e nega comida àquele que bate à sua porta. O mundo? Esse é o palco dos cegos que bailam com suas máscaras. É o brinquedinho daqueles que não enxergam além da dor que não sentem, da fome que nunca passaram, do filho que nunca enterraram, da casa que nunca perderam, do frio que nunca sentiram e do amor verdadeiro que desconhecem.

sábado, 17 de novembro de 2007

estranho não poder

Meu amor. Estranho te chamar assim, novamente. Estranho pronunciar as frases já antigas na memória. Estranho cantarolar por aí os refrões das músicas que eram nossas. É tudo tão sem nexo, tudo tão sem sentido. Olho o passado e não te encontro mais. Perdi, ou perdemos, a identificação. Somos estranhas velhas conhecidas. Queria poder mapeá-la de novo. Queria poder reviver cada parte de nós duas. É estranho te querer novamente. Meu amor. Estranho te chamar, de novo, assim. Eu não posso, não posso querer mais.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

lembranças, apenas lembranças

Lembranças, lembranças, lembranças. Memória recente, memória arquivada. Arquivo profundo, densa papelada. Registros de ti. Toques guardados. Sensações protegidas, aquelas pela última vez sentidas. Memória do gosto, do toque, do cheiro, do olhar. Braços e abraços, pele e tato, saliva, língua e boca, sons, olfato. Tudo guardado. Memórias de nós. Lembranças, lembranças, lembranças.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

repetição repetição repetição

Lembranças, lembranças, recordações, memórias, memórias. Passado, passado, passado, presente, tristeza, tristeza, tristeza. Futuro, futuro, saudade, incertezas, incertezas. Retorno, retorno, retorno, permanência, passageiro, passageiro, passageiro. Amor, amor, decepção, eternidade, eternidade. Vida, vida, vida, morte, renascimento, renascimento, renascimento. Fortaleza, fortaleza, dúvidas, paixão, paixão. Distância, distância, distância, caminho, volta, volta, volta. Traição, traição, carinho, perda, perda. Choro, choro, choro, rompimento, vontade, vontade, vontade. Pedidos, pedidos, promessas, mentiras, mentiras. Mais amor, mais amor, mais amor, mais saudade, esquecer, esquecer, esquecer, esquecer, esquecer, esquecer. Pra sempre!

sala-coração

Cinema-mudo de mensagens, palavras escritas, histórias sonhadas. Todos os dias, o meu coração projeta filmes na memória, resgata passagens da minha alma. Os atores são sempre os mesmos. Só o que muda são os cenários que a imaginação inventa ou recorda. Nesta macabra sala de cinema, a única expectadora é a esperança esquálida, apagada, deprimida, definhando sentada na cadeira de veludo cor de vinho. Além da esperança, no fundo da salinha escura, podemos ver a silhueta magrinha da tristeza-escrava, varrendo incessantemente a sala de projeção.

domingo, 4 de novembro de 2007

prova viva

Vem cá! Senta aqui comigo. Tampe os ouvidos. Vem brincar de ser surda comigo, vem? O amor nos chama. Quer, de novo, nos levar pra cama. Seja forte, querida! Não escute a voz bandida do amor. Vem cá! Senta aqui comigo. Feche os olhos. Vem brincar de esquecer da vida comigo, vem? A vida nos prega muitas peças. O destino quer sempre nos fazer andar para trás. Vem cá! Senta aqui comigo. Esconda o seu corpo. Mascare os seus sentidos. As tentações da paixão esquecida, mas sempre lembrada, retornam. Elas insistem em voltar. Elas corroem os nossos sentidos, mastigam a nossa carne, escarram na reconstrução de nós. Seja forte, querida! E, se ainda assim, a fortaleza não bastar, sucumba! E saiba, quando você não mais agüentar, estarei aqui. Refeita das mesmas dores. Cicatrizada das mesmas feridas. Para provar que somos mais fortes que o amor.


Post para alguém capaz de me entender...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

amizade

A vida, quase sempre, nos prega peças. O destino nunca é suficientemente claro. O caminho pelo qual andamos, é sempre cheio de bifurcações. Às vezes, quando nos deparamos com a multiplicidade de escolhas, sentamos e esperamos o tempo escolher pela gente. É difícil levar a vida sozinho. É difícil escolher sozinho. Precisamos, sempre, dividir os pesos e as alegrias com alguém. Não necessariamente com um amor. Os amores fazem parte das peças que a vida nos prega. É aí que aparecem os amigos. Os verdadeiros amigos. Anjos disfarçados, que nos ajudam, nos apóiam e, mais importante de tudo, nos criticam, nos colocam no eixo, enxugam as nossas lágrimas e confortam nossos espíritos. A vida é cheia de detalhes e caminhos desconhecidos. E, muitas vezes, ela escolhe caminhos bastante engenhosos para fazer os amigos-anjos aparecerem. A forma como eles surgem, não importa. O que importa é a forma como eles modificam as nossas vidas. Alguns, de muito longe, outros, de muito perto. A distância física não importa quando a proximidade das almas é nula.